Bom dia,
Qualquer pessoa com mediano nível de informação sabe que nada no mundo é possível produzir sem a utilização mão de obra – de trabalhadores – e de capital – sob forma de máquinas, tecnologia, capital financeiro e equipamentos. É necessário igualmente que haja quem organize trabalhadores e capital para que sejam produzidos todos os tipos de mercadorias e serviços essenciais à vida humana. Quem organiza e faz com que capital e trabalho transformem matérias-primas e insumos em riqueza na economia capitalista são empresários e empreendedores de todos os tamanhos que geram empregos, pagam salários e ofertam a riqueza gerada para o mercado consumidor. Há também quem advogue que esse papel exercido pelos empresários / empreendedores privados pode ser substituído pelo Estado e sua burocracia pública.
LABORATÓRIO
O Século XX, que terminou ainda não faz 20 anos, foi um grande laboratório dessas duas formas de organizar capital e trabalho para produzir bens e serviços capazes de dar conforto aos humanos. De um lado, dois terços da população planetária tentaram fazer essa organização através do Estado e seus burocratas, via domínio da União das Repúblicas Socialistas Soviética (URSS) e suas repúblicas satélites. O outro terço dos humanos, sob a liderança dos Estados Unidos da América, experimentaram organizar a produção de bens e serviços através do mercado, isto é, através de empresas privadas e seus empresários.
ELITE CORRUPTA
Antes do final Século passado, a União Soviética se desmanchou sob o peso de uma burocracia corrupta e ineficiente deixando as populações dos países que experimentaram a experiência do socialismo real entregues a uma elite carcomida, corrupta e, nalguns casos, envolvida com o tráfico interno e internacional de drogas e armas. Muitos desses países apressaram-se em aderir ao capitalismo privado, dominado por antigos burocratas do Estado socialista, provocando uma enorme desigualdade de riqueza, com poucos muito ricos, e muitos com nível de pobreza inaceitável.
DESIGUALDADE
A organização da economia através do mercado, isto é, através de empresas privadas, como ficou provado ao longo da história, tem também suas mazelas, sendo a desigualdade de renda entre as pessoas a pior delas. Apesar de ser eficiente do ponto de vista da produtividade, as economias capitalistas apresentam uma também inaceitável má distribuição de riqueza entre seus habitantes. Por isso, este hoje deve ser o maior desafio dos humanos neste raiar do Século XXI, e sem dúvida o Estado precisa ser o principal agente de redistribuição de renda cobrando impostos de quem ganha muito para redistribuí-la aos mais pobres através da eficiente oferta de bens públicos como saúde, educação, segurança, e até mesmo de renda compensatória, como é o bolsa família.
MOTIVO
O leitor e a leitora da Parabólica devem achar estranho que tenhamos decidido escrever um texto meio acadêmico, ocupando todo o espaço da coluna. O motivo para tanto tem muito a ver com essa mais nova tragédia ocorrida no município de Brumadinho, localizado na Grande Belo Horizonte, quando mais uma barragem de resíduos minerais, de propriedade da Vale – que quando era estatal chamava-se Vale do Rio Doce – rompeu-se matando um número de pessoas que pode ultrapassar a três centenas. Uma tragédia humana com centenas de famílias destruídas e danos ainda incalculáveis ao meio ambiente.
OPORTUNISTAS
É claro que nenhum bom jornalista gostaria de noticiar uma tragédia desse porte, especialmente porque os fatos são uma versão tragicamente ampliada de outro desastre ocorrido faz menos de três anos, no mesmo estado de Minas Gerais, só que em Mariana, outro município mineiro. Infelizmente, parece que este não é o caso de alguns jornalistas, que apesar tentarem parecer contristados com o sofrimento das pessoas atingidas pela tragédia aproveitam da oportunidade para destilar fel contra o sistema capitalista, atribuindo exclusivamente à ganância dos empresários a responsabilidade pelo acontecimento dessa nova tragédia.
EMPRESÁRIOS
É claro, sempre existirão empresários que objetivam apenas e tão somente o lucro fácil, mas daí a generalizar esse comportamento ao conjunto dos empresários vai uma distância cavalar. Existem muitos empresários com responsabilidade social e que administram suas empresas com outros objetivos além do lucro. Aliás, é bom lembrar que pela idade dessas barragens rompidas, elas foram construídas no tempo em que a Vale era uma empresa estatal, e não privada como é hoje. Culpar apenas o capitalismo privado pelas tragédias é desconhecer essa particularidade.
AMBIENTALISMO
Também alguns ambientalistas, que igualmente querem aparentar tristeza pela tragédia, no fundo são aproveitadores da oportunidade para vociferar contra qualquer atividade mineral no país. Esquecem que essas atividades geram empregos a milhares de trabalhadores e empresários que pagam impostos e geram divisas para o país através das exportações. Sem elas, muitos desses “defensores da natureza” não teriam sequer como comprar celulares e computadores para usufruir de redes sociais que é o principal mecanismo utilizado para fazê-los pensar como se fossem gente do primeiro mundo.
PUNIÇÃO
Enfim, os que sinceramente são solidários para com todas as famílias atingidas por mais essa tragédia e sentem como humanos suas dores, apenas exigem que os responsáveis por omissões ou dissidias sejam punidos civil e criminalmente. Esperam que os erros sejam corrigidos para que esses acidentes sejam cada vez mais raros, qualquer que seja a atividade econômica realizada. O resto é a triste constatação de que os que agem apenas por ideologia são capazes de utilizar de todos os meios para atingirem seus objetivos.