Bom dia!
Os leitores devem estar curiosos com relação ao fato de o “Bom dia!” da Parabólica apresentar textos mais longos que o usual nos últimos dias. A razão para isso é simples. Nossos redatores, tal qual a maioria dos brasileiros e brasileiras, andam perplexos com o cenário político-econômico do Brasil e de Roraima. As nuances da crise são muitas e desde que ainda seja possível procurar alguma coisa como política de Estado fica difícil imaginar onde encontrar o fio do novelo capaz de desenredar a monteira de nós que foi se construindo desde algum tempo.
Veja-se, por exemplo, a questão nacional. Nesta última semana, o cenário político nacional tem uma conformação que lembra os versos de uma composição de Sérgio Porto, um retratista da cena carioca dos anos 70 do século XX, também conhecido como Stanilaw Ponte Preta. Para descrever a confusão política instaurada pela ditadura, Ponte Preta, inclusive para driblar a censura, compôs o “Samba do Crioulo Doido”, no qual fazia a inversão de fatos e personagens da história tupiniquim. Numa das estrofes, Ponte Preta diz assim: “Assim se conta essa história/Que é dos dois, a maior glória/A Leopoldina virou trem/E D. Pedro é uma estação também”.
O Brasil virou igualmente um “Samba do Crioulo Doido”. A presidente Dilma Rousseff não foi à comemoração dos 36 anos de existência de seu partido, PT. Em compensação, teve de enfrentar a publicação de um manual dos petistas para sair da crise, que vai na total contramão das medidas sugeridas pelo governo dela. Ou seja, os petistas não apoiam o governo Dilma Rousseff e dizem claramente que, entre ela e as bases, (sindicatos chapa brancas e movimentos sociais) ficam com os últimos. Em reação, Dilma disse, de lá do Chile, que não governa só para o PT.
Dois dias antes, o PMDB, outra perna junto com o PT, que ajuda Dilma a governar, utilizou o horário gratuito (pago pelo contribuinte) do rádio e da televisão para dizer, com todas as letras, que o governo levou o Brasil a uma crise profunda e jogou-o na lama da corrupção, inclusive quebrando a Petrobras. Como dissemos daqui deste espaço outro dia, os pemedebistas acreditam piamente que os brasileiros e as brasileiras não sabem que eles ocuparam ministérios poderosos, como o de Minas e Energia, nos governos Lula e Dilma. Tanto que suas principais lideranças são citadas como beneficiárias do “Petrolão”.
Bem, se Dilma Rousseff não conta mais com o Apoio do PT e do PMDB, quem lhe dará sustentação para governar daqui para frente? Fica difícil imaginar. A única saída possível pode ser o de aprofundar o esquema de fisiologismo, que já é imenso no Congresso Nacional. É possível que a presidente monte uma espécie de liderança, tanto na Câmara dos Deputados quanto no Senado Federal, capaz de fazer o jogo do toma lá (cargos e verbas federais) dá cá (votos necessários para Dilma ter um mínimo de governabilidade).
Mas, para conseguir isso, se é possível consegui-lo, vai ter que fazer mais reforma ministerial. Até porque os principais ministérios do governo estão entregues aos partidos que dizem não apoiar a forma de governar de Dilma Rousseff. Parodiando o genial Stanilaw Ponte Preta: não é mesmo um samba de político doido?
OS MESMOSNo meio dessa crise envolvendo o PT e o PMDB, um detalhe do noticiário passou despercebido para a maior parte dos brasileiros e brasileiras: o Senado aprovou uma mudança no marco regulatório de exploração do Pré-Sal brasileiro. A lei, de autoria do senador paulista José Serra (PSDB), desobriga a participação da Petrobras em, no mínimo, 30% na exploração de qualquer poço do Pré-Sal. Rejeitada pelo PT, a medida só foi aprovada devido ao apoio do PMDB e teve como intermediadores na negociação com o Palácio do Planalto (diretamente com a presidente Dilma Rousseff) os notórios senadores pemedebistas Renan Calheiros e Romero Jucá.
BILHÕES 1A mudança no marco regulatório que desobriga a Petrobras a participar com o mínimo de 30% na exploração de qualquer poço do Pré-sal é, a princípio, uma conduta lógica depois da quebra da petroleira brasileira. Ela não tem grana para bancar essa participação e tomar dinheiro emprestado no exterior. Para tanto, não parece lógico. Afinal, banqueiro não empresta grana para empresa quase falimentar, e quando o faz, é com juros nas alturas. Além do mais, explorar o Pré-sal só é viável com o preço do petróleo acima de U$ 60,00/barril e ele está hoje em menos de US$ 40/barril.
BILHÕES 2Acontece que o preço do petróleo, segundo os maiores analistas de mercado, deve subir nos próximos meses e alcançar o patamar que viabiliza a exploração do Pré-sal. E quando isso acontecer, a alteração do marco regulatório, proposta por José Serra (PSDB), vai envolver negócios bilionários e que passarão pela decisão da diretoria da Petrobras.
BILHÕES 3Não é estranho que dois senadores que tiveram seus nomes citados como envolvidos na operação Lava Jato, que descobriu mutretas que consumiram bilhões de reais da Petrobrás, sejam convocados, quem sabe pelos tucanos, para viabilização de uma mudança no marco regulatório que vai envolver negócios de bilhões de dólares? Cuidado, Sérgio Moro! Afinal, macaco escaldado tem medo de água fria.