Bom dia, Ufa! Dá vontade de repetir Carlos Drummond de Andrade e pedir para ir embora para Passárgada. Estamos no limite do rasteiro, quando as práticas e maus costumes são levados ao mais baixo nível dos interesses pessoais, familiares e políticos. Tudo deveria ter limites. José Sarney, que não pode ser considerado um anjo em matéria de práticas políticas, disse quando estava na presidência da República que muitas coisas que desejava dizer, ou fazer, evitava dizer, ou fazer, em respeito à liturgia do cargo a que estava obrigado a obedecer. Cada cargo público tem sua própria liturgia e seus ocupantes devem ter sempre em mente a disciplina litúrgica a que se obrigaram a cumprir quando decidiram assumir algum cargo público. Nesse sentido, não está na liturgia do cargo de presidente da República utilizar o gabinete presidencial – um espaço destinado ao trato do bem comum – para pressionar parlamentares a destituir o líder de seu partido na Câmara dos Deputados. Por seu turno, o deputado federal que se sentia acuado pela pressão do presidente sobre os companheiros de seu partido, não poderia liturgicamente falando, chamar o presidente da República, que é chefe do Estado, de “vagabundo”. É isso que se tem protagonizado nestas últimas semanas em Brasília. Em Roraima não é diferente. Se obedecesse a liturgia do cargo, seguramente o governador Antonio Denarium (PSL) não utilizaria do gabinete governamental – um espaço para discutir políticas públicas voltadas ao bem comum – para tramar a destituição do chefe de outro poder, no caso o da Assembleia Legislativa do Estado (ALE), o deputado Jalser Renier (Solidariedade). Mais que isso, a liturgia do cargo de governador exige, de quem o ocupa, um comportamento de utilizar seu tempo e liderança política para resolver os imensos problemas enfrentados pela população. Nunca ocupá-los para tramar contra ocupantes de cargos noutros poderes, ungidos pelo voto dos eleitores e de seus pares. Se existirem razões para tal, que aja a Justiça.
EMENDA A emenda saiu pior que o soneto. Para justificar a ocorrência nas dependências do Palácio Senador Hélio Campos, de uma reunião para tramar o afastamento do presidente da ALE, Jalser Renier, o governador Antonio Denarium disse ter ouvido da deputada estadual Catarina Guerra (Solidariedade) que a mesma teria sofrido assédio moral por parte do deputado estadual Jalser Renier. Ora, se verdadeira a acusação, e na hipótese da existência de provas, o caminho normal seria uma representação por parte da ofendida junto ao conselho de ética contra o colega ofensor. Não parece razoável imaginar que o governador tenha algum poder para assumir o papel do judiciário, ou do conselho de ética da ALE, para punir o parlamentar ofensor.
PARTICIPANTES O mistério foi desfeito pela própria deputada estadual Catarina Guerra em pronunciamento da tribuna da ALE. Gravada clandestinamente durante uma reunião no Palácio Senador Hélio Campos, a parlamentar disse que foi até a sede do governo estadual convidada a participar de uma reunião com o governador Antonio Denarium, com a participação de outros seis colegas de Parlamento: Aurelina Medeiros (Podemos), Soldado Sampaio (PC do B), Jeferson Alves (PTB), Tayla Peres (PRTB), Éder Lourinho (PTC) e Ângela Aguida Portella (PP). A partir da revelação começaram as apostas para saber quem foi o autor, ou autora, da gravação clandestina. Fontes seguras contaram para a Folha que no momento da gravação havia apenas quatro deputados na reunião, mas até o final da tarde de ontem, apenas o deputado estadual Soldado Sampaio, que é líder do governo, fez declaração pública de que não foi o autor da gravação e que possivelmente o gabinete governamental estaria grampeado. Por quem?
SITUAÇÃO FISCAL A organização não governamental (ONG) Centro de Liderança Pública (CLP) em parceria com a Tendências Consultoria Integrada e a Economist Intelligence Unit fizeram publicar a 8.ª edição do Ranking de Competitividade dos Estados. Nela restou evidenciado que dos 26 Estados brasileiros (mais o Distrito Federal), 16 tiveram piora nas contas públicas ou mantiveram a situação fiscal estagnada no ano passado. O que parece indicar que a pregação de austeridade nos gastos públicos não passa de mero discurso. Em sentido contrário, o governo federal de Jair Bolsonaro pode estufar o peito e dizer que está fazendo o dever de casa. As últimas projeções apontam para uma redução do deficit primário do governo federal de cerca de R$ 30 bilhões. RORAIMA PIOROU O ranking mostra o estado de Roraima em 21º lugar entre os estados, com queda de 50,2 pontos em 2016 para 36, 6 pontos em 2019, em solidez fiscal. O relatório destaca que o estado possui maior potencial de mercado no país. Roraima tem elevada taxa de crescimento demográfico, “particularmente de população em idade de trabalho”. A lista foi elaborada segundo o critério “solidez fiscal” – definido como a capacidade de o governo administrar as contas públicas. Segundo o estudo, uma boa gestão permite, por exemplo, diminuir endividamento, atrair investidores e oferecer melhores serviços públicos. Os números indicam que o discurso de contenção dos gastos públicos do governo atual precisa ser verdadeiro.
PEGADA ECOLÓGICA Os ambientalistas criaram o conceito contábil de “Pegada Ecológica” para medir o impacto sobre o meio ambiente decorrente da necessidade de cada ser humano para viver. Evidentemente que a “Pegada Ecológica” dos humanos que vivem em países ricos é muito maior do que a dos humanos habitantes de países pobres. E os ambientalistas dizem que se todos os humanos tivessem a mesma “Pegada Ecológica”, o meio ambiente planetário só suportaria uma população de 1,7 bilhão de pessoas. E já somos, ao redor do mundo, mais de sete bilhões.
PECADO ECOLÓGICO E não é que no Sínodo da Amazônia uma das discussões é criar um “Pecado Ecológico”. Segundo informações de um jornal paulista, a ideia é convencer os fiéis da gravidade do pecado contra o meio ambiente como sendo um pecado contra Deus, contra o próximo e as futuras gerações. Tudo pode desaguar na elaboração de um catecismo, os “Pecados Ecológicos” serão incorporados no sacramento da confissão e penitência. É mole?