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PARTE 2 OS PORTUGUESES NO VALE DO RIO BRANCO 2366

PARTE 2 – OS PORTUGUESES NO VALE DO RIO BRANCO 

A construção do Forte São Joaquim em 1775 às margens do rio Tacutu, na confluência com o rio Uraricoera, foi um marco decisivo para o domínio dos portugueses em todo o vale do rio Branco. Em 1779 começaram a instalar pequenas povoações na região e a recrutar os índios macuxis do rio Essequibo na cabeceira do rio Rupununi (na Guiana) e os índios da aldeia do Lago Amacu (na Venezuela). Os comandantes do Forte traziam suas famílias e ao longo do tempo casaram entre elas. Assim, os oficiais, sargentos, cabos e soldados, permaneceram na região, constituíram família e deixaram descendentes.

O Forte teve como comandantes: Capitão Phillip Sturm (1775), Capitão Nicolau de Sá Sarmento (1787), Capitão Inácio Lopes de Magalhães (1830), Capitão Ambrósio Aires (1835), Capitão José Barros Leal (1839), Major Coelho (1842), Capitão Bento Ferreira Marques Brasil (1852) e o último o Cabo Pedro Rodrigues Pereira (1889).

Neste contexto se faz necessário registrar a história do frei José dos Santos Inocentes, cujo nome original era José Batista Mardel, que veio para o vale do rio Branco para assumir a função de Capelão do Forte São Joaquim. Antes havia largado o convento em Portugal para casar-se com Maria Carmelita, em 1794. No ano seguinte, nasceu o filho do casal, Carlos Batista Mardel (o major Carlos Mardel). E, em 1799 nasceu a filha Carmelita. Neste parto, faleceu a esposa e, consternado com a perda, José Mardel entregou o casal de filhos aos avós das crianças e voltou para o convento, consagrando-se frade, adotou o nome de Frei Jose dos Inocentes e veio para o Brasil, aportando no Pará, depois Manaus e, designado para o Forte de São Joaquim, no vale do rio Branco.

Em 1827 o seu filho, o major Carlos Batista Mardel, deixou Portugal e veio para o Brasil à sua procura e o encontrou no Forte São Joaquim. O major Carlos Mardel passou a integrar a tropa de oficiais do Forte e tempos depois se casou com a índia da etnia Tucano, a jovem Geminiana Cândida. E, desta união nasceu a filha Liberata Batista Mardel.

Em 1830 chegou um novo comandante, o capitão cearense (mas, de descendência portuguesa dos avós) Inácio Lopes de Magalhães. No ano seguinte, ele casou-se com a jovem Liberata Batista Mardel (filha do major Carlos Mardel e neta do frei José dos Inocentes).

O capitão Inácio Lopes de Magalhães nasceu no interior Ceará, na Fazenda São Clemente de Barros, no dia 14 de maio de 1805, e era filho do casal português Domingos Alves de Magalhães e Frederica Arruda de Magalhães.

Ao término do seu tempo de comando no Forte São Joaquim, o capitão Inácio Lopes de Magalhães, junto à esposa Liberata Mardel de Magalhães, instalou uma fazenda às margens do rio Branco, a qual deu o nome de: “Fazenda Boa Vista”.  Em torno desta Fazenda formou-se uma Vila, que se tornou uma Freguesia e em 1890 o lugar se tornou o Município de Boa Vista, hoje a capital do Estado de Roraima. Pena que ele não viu a sua Fazenda chegar a este estágio de desenvolvimento, pois faleceu antes em 1881.

O casal Inácio Lopes de Magalhães e Liberata Batista Mardel de Magalhães teve oito filhos: Carlos, Francisca, Alberta, Manoel, Júlia, Januário, José Lopes e Prudência (todos com o sobrenome: “Mardel de Magalhães”). Eles deram origem a tradicional e nobre “Família Magalhães” em Roraima.

E, o seu sogro, o Major Carlos Batista Mardel, após o serviço militar, passou a dedicar-se ao comércio de mercadorias importadas de Belém do Pará e de Manaus, em demoradas viagens de barco até Boa Vista. Ele fundou sete Fazendas na região do rio Cauamé: Monte Cristo; Nova Olinda; Monte Alegre; Santa Maria; São Salvador; Caranã e Boca do Auau. E, na região do Amajari, três Fazendas: Graciosa, Monte Verde e Arapiri.Um dos netos de Inácio Lopes de Magalhães é o Horácio Mardel de Magalhães (filho do Carlos Mardel de Magalhães e de Eliza Rodrigues Brasil).

Horácio Mardel de Magalhães foi um dos melhores práticos de navegação, conduzindo pessoas e mercadorias no percurso: Boa Vista-Manaus-Boa Vista, na Lancha/Barco “Ajuricaba”, de propriedade do coronel Bento Brasil. Foram mais de 50 anos de atividades como Prático Fluvial, até que se aposentou no dia 30 de janeiro de 1958, no governo do capitão José Maria Barbosa.

Horácio Mardel de Magalhães era casado com Olindina Lopes e, desta união nasceram os filhos: Raimundo Carlos, Hélio do Carmo, Haydé Brasil, Aór de Magalhães, Deise e Maria Sebastiana.

Horácio Mardel de Magalhães nasceu no dia 07/05/1886 e faleceu no dia 18/12/1988, aos 102 anos de idade.

Eu, como jornalista, tive o privilégio de entrevistar o primeiro filho de Horácio Mardel de Magalhães, o senhor Raimundo Carlos de Magalhães (nascido no dia 30/03/1917) – ele era o pai da hoje Delegada da Polícia Civil Haydée Nazaré de Magalhães.