O oportunismo na política roraimense já foi tema outras vezes neste espaço, inclusive, no dia 23 de março deste ano, o artigo intitulado “Quem dera Roraima fosse uma terra de oportunidade, e não de oportunistas” tratou a respeito outra vez do assunto com mais ênfase. Ao comentar sobre o artigo de ontem, leitores lembraram que Roraima é repleto de episódios históricos de aventureiros que chegaram e se deram bem.
E isso é fato. E pode-se dizer mais: aproveitando-se da pobreza e da inocência de outrora da população roraimense. Depois da constituição do Estado, em 1988, começaram a surgir oportunistas de toda ordem, chamados naquela época de “paraquedistas”, os quais miravam um Território Federal isolado do país que acabara de conquistar autonomia e onde tudo estava por fazer, com oportunidades e principalmente oportunismo político.
Foi assim que um empresário chamado Lip Nik mal chegou e já se elegeu deputado federal distribuindo bonecos de sua própria imagem e petecas que eram disputadas por crianças e adultos. “Não deixa a peteca cair/ O Lip Nik já vem aí”, dizia a musiquinha chiclete que ajudou a ludibriar o povo com distribuição de terrenos no que hoje é chamado de bairro Raiar do Sol. Ele só não avançou mais na política porque faleceu.
Das cenas mais folclóricas é possível incluir um tal de Avenir Rosas, que distribuiu desenhos de plantas baixas de casas populares prometendo que, ao ser eleito, iria construir a casa de quem votasse nele e apresentasse o desenho da planta assinada por ele. Elegeu-se com facilidade a deputado federal, aplicando o conto da casa própria, e nunca mais colocou os pés em Roraima. E o povo ficou só com a cara de otário.
Não se pode esquecer de um chinês chamado Chhai Kwo Cheng, que quase se elegeu deputado federal prometendo construir fábricas de roupas em galpões que seriam construídos nos bairros periféricos. Como sinal de sua bondade, saiu distribuindo máquinas de costuras para mulheres e também bicicletas, as quais poderiam se aglutinar em cooperativas e conseguir financiamentos para o seu próprio negócio. Por pouco a aventura não deu certo.
Já tivemos de tudo, de usineiro a piloto de avião com pistola feita de ouro, de empresários a invasor de terra preso por tráfico que se dizia Robin Wood. O mais recente oba-oba foi o da “nova política” que de nova nunca teve nada. E todos vieram em busca da exploração da inocência de muitos, da pobreza da maioria e de eleitores aos milhares que se achavam espertos por vender seu voto na madrugada da eleição em feira-livres montadas a cada esquina ou mesmo na frente de casa em todos os bairros da Capital.
Misturando tudo isso (e muito mais), temos um suco de Roraima, para o qual os oportunistas miram os seus canhões da esperteza e ligam seu radar em busca de alguma boquinha eleitoral, como fizeram os oportunistas do passado. Tudo com a aquiescência de políticos locais, que negociam o oportunismo com um pacote completo, incluindo o eleitor roraimense que eles sempre conseguem ludibriar de alguma forma.
São casos lembrados por leitores a despeito do oportunismo político. No entanto, há muito mais dentro desse grande enredo e das aventuras de quem mal chegava e já conseguia um mandato qualquer. Nem precisa ir longe: bastou alguém dizer que Roraima era “a menina dos olhos” para todos se renderem ao discurso que, no final, era apenas palavras vazias. Até quando os eleitores roraimenses vão permitir que isso continue se repetindo?
*Colunista