Por trás da cortina
Por trás da cortina que se formou em torno do êxodo de venezuelanos para Roraima, o silêncio sobre a Segurança Pública e o Sistema Prisional é o que mais preocupa, pois as autoridades evitam falar a respeito do assunto e fazem de tudo para que não se toque nele, pois há muito tempo o Estado perdeu o controle dos presídios e as forças policiais não conseguem fazer frente à altura às ações do crime organizado.
Cada morte com requinte de crueldade é silenciada porque a opinião pública aplaude o fato de criminosos estarem decepando criminosos, já que sua confiança na polícia e na Justiça tem diminuído. Porém, um rapaz que caiu em um golpe arquitetado por meio de um site de compras foi executado e teve um corpo queimado, revelando que a criminalidade vai além de bandidos versus bandidos.
A grave questão dos presídios também vem sendo abafada e só vem à tona quando ocorre mais uma fuga na Penitenciária Agrícola de Monte Cristo (Pamc). No entanto, a situação vai além disso, ultrapassando o alarido das fugas e da incompetência do poder público em tapar os túneis escavados pelos presos e para concluir as obras na Pamc e no presídio de Rorainópolis, no sul do Estado.
A grande questão é que as facções criminosas não apenas estão em guerra; elas também estão numa encorpada disputa, nos presídios onde elas atuam, para cooptar integrantes, o que significa que um ladrão de galinha preso sairá de lá como membro de uma facção, pois os detentos são pressionados a se declararem parte do crime organizado, sob pena de serem executados dentro da prisão ou terem seus familiares ameaçados.
Não só isso. Quem não tem ligação com o mundo do crime sofre as mais duras perseguições quando vai para a prisão, como familiares tendo que pagar uma “taxa” para garantia de vida, ser obrigado a comprar cigarros ou mantimentos dentro da cadeia ou mesmo espancado por se recusar a seguir ordens.
Significa que, enquanto os governantes cuidam de suas campanhas eleitorais ou desviam a atenção para a imigração venezuelana, o mundo do crime só aumenta suas forças e dá ordens dentro dos presídios, comandando a partir de lá a criminalidade na cidade, se aproveitando da desorganização do Estado e da pobreza nos bairros da cidade.
Se as autoridades continuarem inertes ou disfarçando que estão agindo, o Estado de Roraima se tornará refém do crime, muito mais do que está acontecendo neste momento. A realidade não condiz com o que está se passando nos institucionais do governo. O momento é de uma gravidade que não pode mais ser disfarçada pelas autoridades.*Jornalistae-mail: [email protected]: www.roraimadefato.com.br