Porta para o crimeHá cerca de três semanas, como faço todos os domingos, no início da noite, estava com meus filhos jogando bola no campo de areia do bairro Cidade Satélite, na zona Oeste, o mesmo onde a prefeita diz morar. Em certo momento, um grupo de jovens, sentados em um dos bancos da praça, no meio de todo mundo, começou a fumar maconha. O cheiro forte e característico logo impregnou toda a praça e certamente alguém ligou para a polícia, que meia hora depois apareceu, motorizada, quando o grupo já havia terminado de consumir a droga. Os policiais passaram por perto, observaram, quase pararam, mas seguiram. E o grupo, que desafiou a polícia e desrespeitou todos que ali estavam, simplesmente ficou por isso mesmo.Um fato curioso é que, logo após os policiais motorizados terem ido embora e, coincidentemente, três viaturas da Polícia Militar terem passado pela praça, houve um esvaziamento por parte de adolescentes e jovens que estavam por lá. Talvez estivessem portando algum tipo de droga. Talvez não. Talvez estivessem apenas com medo de a polícia reprimir todos que por lá estivessem.Aquele bairro tem ficado perigoso e os traficantes perdido o temor pela polícia. Com a ausência do poder público, a situação se agrava. É isso o que está faltando em Boa Vista para começar a vencer o crime: presença mais constante da polícia, ainda que isso possa parecer excesso, uma vez que deverá surgir reclamações do tipo: “Só abordam jovens da periferia”. Recordo-me que, na década de 90, a prefeitura de Nova York começou a mudar o alto índice de violência combatendo os crimes pequenos e agindo com prevenção ao vandalismo, por meio da teoria da “janela quebrada”, a qual comentei por aqui, há um certo tempo, a fim de impedir o avanço da violência e surgimento de crimes mais graves e crescentes.É certo que em NY as polícias são municipalizadas, mas as prefeituras brasileiras precisam investir na Guarda Municipal não somente para ajudar a prender bandidos, como vem ocorrendo em Boa Vista, mas para agir no combate à degradação do espaço urbano, que por sua vez abre portas para a instalação da marginalidade nas praças e outros espaços urbanos.Um espaço largado pelo poder público, que não previne o vandalismo, não age para apagar as marcas dos vândalos e deixa os espaços coletivos ao descaso, deteriorado, contribui para se instalar a venda de drogas, assaltos, prostituição, surgimento de galeras e outros crimes.Como não há trabalho de prevenção ao vandalismo e a pequenos crimes, os espaços públicos vão sendo ocupados, primeiro pela malandragem, depois pelos criminosos. Atualmente, a Prefeitura tem tratado vandalismo como um desvio de comportamento, um desrespeito ao bem coletivo ou, no máximo, um dano ao patrimônio público. Mas é preciso tratar isso como uma porta de entrada para o mundo do crime. Em Nova York deu certo. *JornalistaAcesse: www.roraimadefato.com
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AFONSO RODRIGUES
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