JESSÉ SOUZA

Posto de monitoramento e a memória curta quando se trata de questão indígena

Imagem da ação policial para desmontar bloqueio em estrada que dá acesso à Terra Indígena Raposa Serra do Sol (Foto: Divulgação)

A memória é curta, por isso sempre é necessário relembrar. Foi em novembro de 2021 que as autoridades estaduais determinaram uma ação que se mostrou truculenta da polícia contra um posto de monitoramento montado por indígenas contra garimpo ilegal na Terra Indígena Raposa Serra do Sol, mais precisamente na entrada do Município de Uiramutã, fato este que inclusive provocou um atropelo jurídico, de um juiz estadual decidindo sobre um caso de jurisdição federal.

Todo imbróglio começou antes, em agosto daquele ano, depois que um grupo de motociclistas que costumava andar por aí, em terras indígenas ou onde quisesse, sem pedir autorização e fazendo o que bem entendesse. O fato é que as comunidades indígenas sempre se mobilizam para tentar monitorar e coibir a entrada de mantimentos, combustíveis e cachaça para as áreas de garimpo também ilegal, já que o Governo Federal nunca assumiu sua responsabilidade em fiscalizar as terras indígenas.

Um novo posto de monitoramento está sendo feito em Uiramutã, na atualidade, que visa principalmente proibir a entrada de bebida alcóolica, que é a desgraça para a cultura indígena e combustível para crimes não só lá, mas em todas as comunidades do interior. Por lei, é crime entrar com bebidas alcóolicas em terras indígenas, logo não há qualquer ilegalidade no fato de os próprios indígenas agirem para cumprir a legislação federal, já que o poder público não age.

Imagens de vídeo sobre a atuação dos indígenas no posto de fiscalização repercutiram, sem qualquer contextualização, como é costume nas redes sociais, jogando novamente a opinião pública – já tendenciosa a ser contra os indígenas em quaisquer situações -, inclusive chegando às mãos de parte da imprensa, que por sua vez não costuma fazer a contextualização dos fatos nem ouvir todas as partes envolvidas.

Além de toda essa questão, existe a situação das autoridades e dos políticos, os quais agem com duas caras quando se trata da realidade indígena. Em época de campanha eleitoral, eles andam nas comunidades dançando forró, participando de dança e comida tradicionais, abraçando idosos, beijando criancinhas, distribuindo cestas básicas, prometendo mundos e fundos.

No entanto, fora de ano eleitoral, defendem o garimpo ilegal e não hesitam em enviar a polícia para rechaçar posto de monitoramento, que tem a finalidade justamente de coibir a entrada de garimpeiros e mantimentos para o garimpo, bem como impedir a venda de bebidas alcóolicas seja por quem for. Como estão antecipando a campanha eleitoral, é possível que não se repitam as cenas de ações policiais violentas de 2021.

É necessário que a sociedade discuta essa questão dentro da sobriedade e da legalidade, sem colocar os indígenas sempre do lado do mau e como se fossem motivo de todas as desgraças. Mandar a polícia antes para só depois perguntar o que está acontecendo, como foi feito em 2021, mostrou apenas a truculência das autoridades e a ânsia de criminalizar os indígenas, sem levar em conta a livre circulação de bebidas alcóolicas, de pessoas não autorizadas e de material para o garimpo ilegal.   

*Colunista

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