Precisamos entender que a democracia jamais pode ser ameaçada ou negociada
Jessé Souza*
Quando aquele protótipo de terrorista paraense arquitetou a explosão de uma bomba nas imediações do aeroporto de Brasília, na última semana de dezembro passado, houve quem colocasse em dúvida aquela ação terrorista pelo simples fato de o acusado ter confirmado tudo rapidinho logo ao ser preso, entregando de bandeja os demais envolvidos.
A invasão às sedes dos Três Poderes no Distrito Federal, no domingo passado, acabou por revelar a forma aberta de agir desses extremistas, que sequer se preocuparam em reunir provas contra si mesmo, inclusive fazendo transmissão ao vivo pelas redes sociais e/ou postando seus atos extremistas nos seus perfis quase que instantaneamente, entre anônimos, servidores públicos, funcionários de empresas privadas, militares e empresários.
Havia um plano deliberado, às claras, cujo alerta deveria ter soado naquela tentativa fracassa de explodir um caminhão tanque carregado de combustível perto do aeroporto de Brasília. A partir dali, já deveriam ter sido tomadas todas as providências em relação ao acampamento em frente ao quartel do Exército em Brasília e em outros estados. Enfim, os fatos desembocaram na fatídico tarde de domingo, dia 8, na Praça dos Três Poderes.
Mas o que tem de ser destacado é que os extremistas nunca esconderam seus rostos, com regulares e ostensivas publicações nas redes sociais, uma vez que reinava em suas mentes que eles estavam bem protegidos por golpistas de altas patentes no Exército e nas polícias estaduais, imersos em uma lavagem cerebral patrocinada por líderes bolsonaristas que os alimentavam com um mundo paralelo, os fazendo acreditar que bastava invadir o centro dos poderes constituídos para concretizar o golpe.
Apesar do apoio que tiveram, no chamado “the after day” (o dia seguinte) os envolvidos no ato terrorista estão sentindo o peso das consequências por terem atentado contra a democracia. E já descobriram as acusações que os aguardam no Tribunal: atos terroristas, inclusive preparatórios; associação criminosa; abolição violenta do Estado Democrático de Direito; golpe de Estado; ameaça; perseguição; incitação ao crime; e dano ao patrimônio público.
Como já diziam os mais velhos, não há o mal que não traga o bem. O que pode ser traduzido como ponto positivo é que os arruaceiros e extremistas passaram a descobrir que a democracia não pode ser negociada por meio de atos extremos nem desafiada por ações totalitárias. Porque nela repousa a pilastra que sustenta o país rumo a novos tempos de paz, prosperidades e um futuro melhor. E isso vale também para movimentos radicais de esquerda.
Mas, atenção! O golpismo ainda não foi contido. Os sabotadores estão de plantão permanente em várias frentes e os tarados pelo golpe militar continuam ativos, arquitetando novos movimentos extremistas por todo o país, se escorando em pessoas em transe dispostas a crerem em teorias conspiratórias, esperando as ordens de um mito que nunca escondeu seus planos golpistas.
É por isso que o País precisa mostrar forças depois do “dia seguinte” aos atos extremistas, no Distrito Federal (DF), cujos patrocinadores tentaram vencer a democracia por nocaute usando os mais baixos golpes. Não conseguindo o intento, agora se valem de estratégias sórdidas porque sabem que existe um solo fértil de onde brotam pessoas incautas alimentadas por mentiras que nem são tão bem elaboradas.
Outro dado positivo que emergiu de toda balbúrdia é que as pesquisas divulgadas nesses últimos dias indicam que a maioria da população desaprova os atos terroristas que destruíram o centro do poder, no DF. É um bom indicativo para que o País supere essa ferida o mais urgente possível, sem nunca fraquejar aos extremistas, que precisam entender que a democracia jamais pode ser ameaçada.
Que os extremistas sejam tratados como terroristas e punidos com o rigor da lei, servindo de exemplo a todos, de esquerda, de direita e de centro. Assim como está sendo feito nos Estados Unidos, que tratou a invasão ao Capitólio como um marco de manutenção e fortalecimento da democracia, buscando a punição a todos os envolvidos.
Não se pode relativizar ou contemporizar o que ocorreu no Brasil. Os atos terroristas também precisam ser esse marco imprescindível para que nossa democracia seja fortalecida; e para que outros extremistas pensem duas vezes antes de acharem que atentar contra os poderes constituídos é uma diversão para ganhar popularidade e reconhecimento nas redes sociais ou uma resposta a um suposto chamado de Deus, da Família e da Pátria.
*Colunista