Jessé Souza

Presidios e professores 3593

Presídios e professoresNão foi uma profecia, mas uma constatação óbvia que não precisa de bola de cristal: em 1982, Darcy Ribeiro disse que, se os governadores não construíssem escolas, em duas décadas faltaria dinheiro para construir presídios. E não deu outra. Hoje, os estados vivem a pior crise no sistema prisional da história do país.Relembrando, o Estado de Roraima foi onde a bomba estourou definitivamente, no fim do ano passado, com a carnificina de 10 detentos dentro da Penitenciária Agrícola de Monte Cristo (Pamc), o que foi seguido pelos presos de Manaus (AM) para logo depois a cena de carnificina se repetir em Roraima, desta vez com 33 mortos, e seguir por outros estados.Embora os governantes tenham começado a agir, tentando estancar a sangria medieval que tomou conta dos presídios, não serão essas medidas que vão resolver definitivamente o problema do sistema prisional e da violência no Brasil de uma forma geral.Acima de tudo, será preciso investir em educação, onde o professor passe a ser mais valorizado ou tão valorizado quanto um magistrado, ou um médico, ou qualquer outro profissional que ganhe bem e tenha a profissão desejada por quem ainda está na escola.E esse exemplo de valorização do educador vem da Coreia do Sul, onde os professores são tão respeitados que podem se transformar em celebridades milionárias ao lado de grandes astros do mundo artístico. Que ninguém pense que isso foi uma construção milenar. Há cerca de 60 anos, aproximadamente 80% dos sul-coreanos eram analfabetos.Com investimento pesado na educação, atualmente a Coreia do Sul é considerada um país forte economicamente, conseguindo fazer com que a sociedade, principalmente as famílias, tenham o sucesso acadêmico como prioridade para a vida dos jovens e, consequentemente, para o futuro do país.Ao contrário desse cenário, no Brasil os professores são tratados na base do desprezo e da desvalorização, chegando a ser obrigados a recorrerem insistentemente a paralisações e greves para que sejam ouvidos pelos governantes. Em Roraima, a categoria teve que fazer a greves para alcançarem seus direitos diante do ofício importante que é educar.Enquanto a educação não for considerada um setor com alta prioridade pelos governantes, com o professor respeitado por seu papel de contribuir para o desenvolvimento, seremos um país tomado pela violência e com um sistema prisional falido. E isso já dizia Darcy Ribeiro há 35 anos.*[email protected]: www.roraimadefato.com