Pelo que já foi visto em um passado recente, a proposta para federalizar a RR-171, rodovia estadual que dá acesso ao Município de Uiramutã, a Norte de Roraima, aprovada na Comissão de Infraestrutura do Senado na terça-feira, 12, pode não passar de mais um jogo de cena política.
O mesmo já ocorreu com a então RR-203, estrada que dá acesso à região de Surumu e que depois se conecta com a RR-171 para dar acesso à sede de Uiramutã. A RR-203 passou a se chamar BR-433 depois da federalização. Apesar de passar para a jurisdição do Governo Federal, esta rodovia segue em precária situação historicamente, assim como as demais.
Se o argumento para federalizar foi garantir que a rodovia teria melhores condições políticas para passar por conservação e até asfaltamento, nada ocorreu. Da mesma forma que a possível federalização da RR-171 possa significar apenas uma manobra para o Governo de Roraima lavar as mãos completamente de sua responsabilidade com aquela estrada.
De concreto mesmo sobre as estradas que dão acesso àquela região é o que já foi descrito no artigo publicado no dia 08 de setembro deste ano, intitulado “As mais ultrajantes estradas que dão acesso à sede do Uiramutã”, que tratou dos sérios riscos enfrentados por quem precisa viajar para aquela localidade.
Enquanto os políticos fazem jogo de cena para federalizar a RR-171, os políticos se esquivam de todas e quaisquer responsabilidades, bem como os órgãos fiscalizadores, enquanto outros estão mais interessados em atacar o protesto das comunidades indígenas que estão mobilizadas na BR-174, mantendo bloqueios intermitentes.
Conforme foi destacado no antigo de setembro, é inconcebível a forma como as autoridades dos três níveis de governo tratam a população não só daquele município, formada por maioria indígena, mas também de outros municípios que precisam passar por aquelas estradas em situação de penúria.
A entrada para a Vila Surumu pela BR-433 (antiga RR-220) até a localidade chamada de Placa, no entroncamento com a RR-171, segue em condições lastimáveis. Não só a população é penalizada, bem como servidores de órgãos federais que prestam serviços na Terra Indígena Raposa Serra do Sol, funcionários de instituições, estudantes, visitantes e turistas.
A RR-171 há tempos está largada à penúria governamental, que só realiza obras de recuperação paliativas no verão. No inverno, as condições chegam a um nível de desespero, quando as chuvas não só transformam tudo em atoleiro como abrem imensas crateras, além de arrastarem as pontes de madeira. São 191Km de puro descaso dos políticos, sob a conivência de quem deveria fiscalizar.
Como se trata de uma região de difícil acesso, o que acaba deixando a população isolada de tudo, especialmente as comunidades indígenas, o esquecimento governamental é algo histórico e até proposital, mas que não provoca nenhuma indignação de órgãos de controle e fiscalizadores. Neste sentido, federalizar estrada é o mesmo que apenas jogar para a plateia e lavar as mãos.
*Colunista