JESSÉ SOUZA

Quando passado e presente da política se conectam por meio de operações policiais  

Polícia Federal quando cumpria mandado de busca e apreensão na casa do prefeito de Alegre (Foto: Divulgação)

A semana que se passou foi marcada por operações policiais, em Roraima, as quais fizeram a população relembrar o passado não muito distante de uma política cujos personagens saltavam das páginas da Coluna Social e da Editoria de Política direto para a crônica policial, protagonizando cenas que ficaram marcadas na história da política partidária local.

Não por coincidência, a operação policial que tem como alvo central o Município de Alto Alegre acabou por conectar personagens de hoje e de 20 anos atrás, quando estourou o maior escândalo de corrupção no Estado: o “Caso Gafanhoto”, que levou uma penca de políticos graúdos (inclusive ex-governador), seus comparsas e alguns familiares para trás das grades. Mas ainda é preciso contextualizar outros fatos.  

Nas eleições de 2018, surgiram novos-velhos personagens anunciando o surgimento de uma “nova política”, a qual iria moralizar o país e, por consequência, varrer a velhacaria no Estado de Roraima, discurso que serviu de bandeira política a reboque da onda bolsonarista que surgiu de estouro naquele momento crucial para a História. 

Era um cenário muito parecido com o de 1989, quando emergiu a onda Fernando Color de Mello, que se popularizou como o “caçador de marajás”, idolatrado por jovens fanáticos que ima para a rua com a cara pintada de verde e amarelo (coincidência?!). Eleito, o governo não demorou muito, quando Collor renunciou para não ser deposto por impeachment após seguidos escândalos.

Saltando para 2023, neste momento de operações policiais, já dá para conjecturar que a “nova política” exaltada em 2018 foi apenas um discurso oportunista daquele momento. O Estado de Roraima até hoje ainda precisa ser passado a limpo. Sequer se cumpriu a promessa de que seria finalmente feita uma auditoria nas contas do governo estadual.

E foi assim que a Polícia Federal, ao investigar uma denúncia de propinagem na Universidade Estadual de Roraima (UERR), achou R$3,2 milhões dentro de sacos de lixo, em uma cena típica da velhacaria à moda brasileira.  Valendo ressaltar que personagens da UERR estiveram envolvidos na disputa pela vaga de conselheiro do TCE.

Um fato importante dentro desse grande contexto é que o governo que se elegeu sob a bandeira da “nova política” e do “não político” está com o governador cassado no segundo mandato por ter feito uma farta distribuição de cesta básica antes e durante a campanha eleitoral, conforme decisão do Tribunal Regional Eleitoral (TRE). 

Não poderia ser apenas uma ironia política, nem tão somente uma prática usual dos políticos do passado do vale-tudo em busca do voto, mas a constatação de que pouco ou nada mudou quando se trata da realidade política de Roraima, em que o eleitor busca vender seu voto numa feira-livre eleitoral e os políticos sabem que precisam abrir a caixinha das velhas ferramentas de práticas históricas. 

E foi assim que passado e presente se conectaram em uma das operações da PF, em que o prefeito de Alegre, Pedro Henrique Machado, preso sob acusação de um esquema de propinagem, é filho de um casal envolvido há duas décadas na Operação Praga do Egito, que ficou conhecido como Operação Gafanhoto (funcionários fantasmas eram colocados apenas para “comer” na folha de pagamento, ou seja, recebiam sem trabalhar e davam parte do dinheiro para políticos e outras autoridades).

Inclusive o pai dele, Henrique Machado, então conselheiro do Tribunal de Contas do Estado (TCE), foi condenado por peculato neste caso histórico. Enquanto respondia a esta acusação, ele foi condenado, de novo, à prisão, por ter recebido de forma irregular o auxílio-transporte justamente enquanto estava afastado do cargo de conselheiro.

É muito enredo envolvido entre presente e passado. E os fatos deixam claro que é preciso muito mais para livrar o Estado de antigas práticas, as quais ressurgem com toda força na atualidade. E o eleitor tem muita culpa nisso tudo, desde quando se acostumou a montar a feira-livre da venda de voto na noite às vésperas das eleições ou quando desejava ser “gafanhoto”.

Resta esperar que a PF siga com os seus trabalhos para que a Justiça, no final, puna exemplarmente os envolvidos em corrupção a fim de que sirva de exemplo, já que o eleitor não tem se mostrado sem condições de ele mesmo fazer essa faxina moral.

*Colunista

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