Quando uma importante região é abandonada em três níveis de governo
Jessé Souza*
Quem mora no Município do Amajari, Norte de Roraima, sofre triplamente por causa das precárias condições das estradas de acesso à região: BR-174, RR-203 e as vicinais. Não há como escapar do descaso nos três níveis de governo: federal, estadual e municipal. Não é algo recente, mas os problemas se ampliaram nos últimos anos.
No início deste mês, um vídeo mostrou a revolta de um morador da Vila Bom Jesus, que cobrava a prefeita do Amajari pelas condições da vicinal que dá acesso àquela localidade. O morador teve sua moto “engolida” por uma cratera que se formou no meio de um imenso atoleiro naquela vicinal. E assim, ao longo deste inverno, vídeos de outras vicinais também foram divulgados, principalmente daquelas que dão acesso ao Trairão e Ametista.
Mas a situação vai muito mais além. A rodovia estadual de acesso ao Amajari, a RR-203, tem um contrato de recuperação do asfalto há dois anos, cuja obra não avança de forma alguma, apesar de todas as denúncias e reclamações, inclusive feitas por esta coluna ao longo desses dois últimos anos. A obra está abandonada desde que a empresa teve que refazer o asfaltamento da rua principal da sede da Serra de Tepequém, onde o asfalto estourou dois meses após a obra concluída.
Os problemas não param por aí. A BR-174, cujo trecho norte é o único que dá acesso ao Amajari, está em condições lamentáveis, com a obra também paralisada há um certo tempo, em meio a crateras que se estendem por no mínimo 50km, da ponte do Truaru até a ponte do Uraricoera. É o pior trecho, mas os buracos seguem por toda a rodovia, situação piorada pelo tráfego intenso de carretas que levam alimentos e outros carregamentos para a Venezuela, na fronteira com Pacaraima.
Então, como se pode notar, ir para o único ponto turístico de Roraima realmente consolidado, a Serra do Tepequém, se tornou um grande sacrifício, com sérios riscos de acidentes ou de um problema qualquer no veículo. Além disso, as precárias condições das estradas contribuem para o alto custo de vida para quem mora em Tepequém, a começar pelo preço dos alimentos e dos combustíveis. Os valores acabam sendo influenciados pela dificuldade de abastecimento de alimentos por causa das péssimas condições das estradas.
A buraqueira também inibe que turistas venham de Manaus (AM), ou mesmo de Boa Vista, pois muitos condutores que não conhecem o trajeto ou não têm o hábito de dirigir em estradas acabem sendo desencorajados a viajar. Enquanto isso, agentes governamentais fingem que estão fomentando o turismo ao trazer empreendedores de outros estados, sem que os governos façam o básico, que é dar condições de locomoção pelas estradas. E parece que ninguém dá a mínima para isso.
No Amazonas, a BR-174 já começou a passar por obras de reforma e recuperação, enquanto o descaso segue do lado roraimense, mostrando o desprestígio e o pouco caso de nossos políticos. O Amajari é o resumo do que se tornou a questão das estradas, abandonadas pelos três níveis governo. E mesmo sendo a região com mais caciques na política local, onde famílias tradicionais disputam o voto dos eleitores. Isso mostra o nível de submissão do eleitor desse município, historicamente enganado, mas que, mesmo assim, elege e reelege os mesmos políticos de acordo com suas conveniências.
E por isso mesmo todos os políticos fazem descaso com esta região importante para o desenvolvimento não só desta localidade especialmente, como de todo o Estado de Roraima. Mesmo que esta região tenha o único ponto turístico consolidado e o maior produtor de tambaqui do Norte. Ainda assim, com esses predicados, a região é tratada com todo desprezo governamental nos três níveis de governo. É uma situação inacreditável.
*Colunista