QUANTO PIOR, MELHOR
O ser humano é engraçado. Veio ao mundo com alguns defeitos de fábrica, entre eles a insatisfação o tempo todo e a mania do gato coitadinho. Mas a inércia em relação as possíveis melhorias estão também no descaso em relação ao sucesso do outro, que muitas vezes faz parte do seu próprio sucesso. Parece que o discurso do “quanto pior, melhor” é defendido com unhas e dentes pelos mesmos que falam “Faça o que eu digo, mas não faça o que faço”.
Acredito que esteja enraizado na cultura do povo brasileiro o discurso do “quanto pior, melhor”, parece que acorda e dorme acreditando nesse mantra. Estamos passando por um período complexo, onde discursos de ódio se amplificam de todos os lados. Dizer que vem de apenas um local é, no mínimo, ignorar o radicalismo que tomou conta do Brasil há décadas e não apenas há poucos anos. A gente vê um movimento hipócrita que sai da boca de muita gente e que traz uma outra mania do brasileiro: “faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço”. No final das contas os dois mantras têm relação direta, pois confirmam que o cenário apresentado ou defendido, depende do ângulo e da forma como alguém o vê, ou seja, de acordo com as percepções, conceitos e pré-conceitos defendidos a quem se interesse.
O Brasil vem ignorando números para aceitar discursos vazios, vem ignorando fatos para viver de argumentos falsos, mentirosos e que colocam e dúvida tudo o que é real.
Isso tem relação direta com o poder e o ódio faz parte dessa relação. O desejo pelo fracasso do outro é tido como um troféu, para que alguns possam usar e falar de boca cheia a tão afamada frase: “eu avisei”.
Quando paramos para fazer uma análise mais profunda, reafirmamos que o brasileiro é um caso a ser estudado pela NASA. Vejamos alguns exemplos do nosso dia a dia: Quando chove e logo temos como resultados alagamentos, a primeira atitude é cobrar do poder público(e deve cobrar), mas em momento algum paramos para analisar a nossa fatia de culpa, como o jogar o lixo de qualquer forma, o saco de lixo descartado em lugares impróprios, os terrenos que acumulam lixo e galhadas, que contribuem também para os alagamentos e a gerar outros problemas que impactam diretamente a sociedade, como é o caso do mosquito Aedes Egypt que fará morada nesse nosso descaso também. Tudo isso demonstra que, sem a menor responsabilidade ou remorso, admitimos nossa fatia de responsabilidade na sociedade.
O brasileiro é um campeão de críticas. Critica tudo e todos, para ele, por exemplo, todos os políticos são corruptos, mas não vejo nenhum brasileiro se acusar ou denunciar um vizinho que recebe a previdência de forma fraudada, um auxílio emergencial sem precisar e até mesmo uma cesta básica em troca de voto. O que vemos é que na hora de criticar um político ou um colega por corrupção ou desmando, esquece que culturalmente o Brasil se acostumou do mais simples ao mais abastado com a eterna vontade de levar vantagem em tudo. Lembrem quando você quis furar a fila do banco, questionar o policial na blitz feita por órgão de trânsito quando seu carro estava irregular ou mesmo, você ter bebido antes de dirigir, um momento certo para confirmar uma das frases do nosso texto: “Faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço”.
Sempre ouvi dizer que o melhor do Brasil é o brasileiro e gostaria muito de continuar acreditando, mas tem certas coisas que ne impulsionam a duvidar. Somos um povo que a ESPERANÇA está no nosso DNA, mas a nossa prática diária não confirma isso. Somos um povo que consegue fazer a mágica da sobrevivência com um salário-mínimo e mesmo assim temos o título de um dos povos mais alegres do mundo, mas temos a dificuldade de sorrir comemorando a conquista do vizinho. Somos um povo criativo, pouco inovador, mas vivemos dizendo que tudo de mal é culpa da CRISE, parece que ela nunca passa ou não tem outra opção, o que gera um engessamento que limita um povo que tem tudo para ser o melhor do mundo. Somos um povo tido como persistente, mas que a teimosia de alguns muito se enquadraria melhor, enfim somos o povo com muitos adjetivos e pouca atitude.
Parando e refletindo com carinho sobre o Brasil e seu povo, vemos como temos uma avenida pela frente para evoluir. Nossa crítica jamais pode considerar apenas a população, nossos governantes têm que sempre ser lembrados para que a confiança depositada sobre eles tenham o peso da responsabilidade de mais de 200 milhões de pessoas. Jamais esqueçam que eles estão lá pelas nossas escolhas. É lamentável continuar a querer que o nosso país mude se nossas atitudes continuarem sendo as mesmas do passado e que infelizmente já viraram hábito. Não podemos querer que o país ou nossas vidas melhorem se a parte que está sob nossa responsabilidade sempre transferimos para os outros e não assumimos nosso papel como deveríamos. Como queremos mudar o Brasil e colocá-lo como país de primeiro mundo se vemos pessoas defendendo modelos que matam pessoas e roubam suas dignidades como é o caso da Venezuela? Como mudar o Brasil se sonhamos o sonho americano sem nem parecer com eles? O Brasil e seu povo podem ser bem melhores do que tudo que temos no resto do mundo, depende de atitude.
Tantos questionamentos, mas as respostas não são difíceis. Nós somos um povo que assume suas responsabilidades, adora manifestações e quando chega em casa pergunta o que foi fazer na rua. Um poco que adora direitos e esquece os deveres. Um povo tomado pela mania do coitadinho e que precisa da justiça para tudo. Um povo que não sabe se autorregular. Um povo que não busca transformar informação em conhecimento. Um povo que critica o capitalismo selvagem americano, mas que quando tem a oportunidade de sair do Brasil, busca logo as cidades americanas. O simples fato das crianças cantarem o hino nacional brasileiro vira motivo de contestação de alguns, enquanto o patriotismo tão latente do americano -que o brasileiro sonha ser – ficou de lado e deu lugar a um mimimi que colocará em risco futuras gerações.
No Brasil sobra discurso e falta prática. No Brasil tem muito brasileiro que não sabe o que é ter vergonha na cara e isso vale para todas as classes. Então enquanto pensarmos que “quanto pior melhor” e “faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço” iremos ficar por muito tempo no lugarzinho que nos resta, ou melhor que nós escolhemos.
Por: Weber Negreiros