Ao longo da semana, o fogo voltou a arder nos lavrados da região Norte de Roraima, especialmente no Município do Amajari. As chuvas voltaram a ficar escassas, o suficiente para que surjam focos de incêndio às margens da BR-174 e da RR-203, prejudicando inclusive o tráfego de veículos que é intenso naquela região.
O que chama a atenção neste cenário, que se tornou uma cena repetida a cada período de verão roraimense, é que a maioria desses incêndios é provocada por pessoas da própria comunidade, revelando não só uma questão cultural de indígenas e não indígenas, mas também a completa inexistência de um trabalho das autoridades para com esta questão.
O maior exemplo é na Comunidade Indígena Três Corações, no início da rodovia 203, próximo do entroncamento com a BR-174. As pessoas ateiam fogo tranquilamente no lavrado, a qualquer hora do dia, como forma de limpar o terreno em frente e no entorno de suas casas, como se fosse algo inocente e que não houvesse implicações sérias. E isso se repete até nas áreas de fazenda até chegar na Serra do Tepequém, no final da RR-203.
Já era para o poder público ter feito uma intervenção, com um trabalho educativo e de conscientização, mostrando a ilegalidade desse ato de atear fogo e os prejuízos para todos, população e meio ambiente, e seguir até o ponto de chegar o momento da repressão, caso o trabalho de orientação e conscientização não mais surtissem mais efeito.
Tanto o município quanto o Estado ficam omissos a isso. A Prefeitura de Amajari sequer tem estrutura para isso com sua Defesa Civil limitada. O Governo do Estado também só chega quando o fogo já destruiu tudo e também não mostra organização em sua estrutura. A comitiva do governo, em suas andanças no interior para entregar cestas básicas, acaba tendo uma equipe exclusiva para acompanhá-la, desfalcando ainda mais o serviço deficitário de atuação da Defesa Civil junto a todo o Estado.
Daqui para a frente, teremos ainda cerca de três meses e meio de seca no Estado, o que significa que os incêndios e queimadas descontroladas poderão se tornar um grave problema em todo o Estado. No entanto, somente agora o governo se preocupou em realizar treinamentos para novos brigadistas, a exemplo da Serra do Tepequém, onde o grupo ainda está em formação para treinamento somente no ano que vem.
Os acontecimentos mostram que nada é planejado, como trabalho educativo junto a comunidades indígenas ao longo das rodovias, treinamento de brigadistas, palestras em escolas e associações etc. Tanto no inverno quanto no verão, as cenas se repetem, revelando como as autoridades agem nas grandes questões de enfrentamento no que diz respeito ao meio ambiente, como incêndios e alagamentos.
Nos últimos quatro anos, o Estado de Roraima não teve um período de seca intenso, com chuvas caindo regulamente durante todos os anos, servindo para esconder a desorganização do poder público com as queimadas e incêndios. Agora chegou a hora da realidade, pois a meteorologia prevê um período de seca intensa e os sinais não são nada bons. Graças à incompetência de nossas autoridades em todos os níveis de governo.
*Colunista