AFONSO RODRIGUES

Quem somos e por quê

“Você é tão rico, ou tão pobre, quanto o seu vizinho; senão não seria vizinho dele”. (Ralph Emerson)

Quando sabemos quem somos, sabemos que somos todos iguais nas diferenças. Logo, não há por que ficar alimentando a hipócrita discriminação. Os cientistas estão tentando, no século vinte e um, descobrir a origem do universo. Mas não nos dizem a que universo se referem. A verdade é que vivemos em dois universos num só. Um não passa de um pequeno universo, parte do universo infinito. Um cantinho onde chegamos, há, precisamente, vinte e uma eternidades. De lá para cá não progredimos tanto assim. Ainda nem mesmo sabemos quem nem o que somos, nem de onde viemos, nem por que viemos. Simples pra dedéu. Se somos todos iguais temos que nos respeitar como somos. Sobretudo quando sabemos que vivemos num processo evolutivo.

Ainda há dificuldade em entender, quando dizemos que devemos ser afáveis, mas sem familiaridade. Não devemos deixar de cumprimentar o próximo por não os conhecer. Tem nada a ver. Quando caímos no elementar da familiaridade, estamos nos igualando. E não querer se igualar não significa discriminação; apenas respeitar as diferenças. A diferença nas classes sociais não inferioriza os da classe tida com inferior. As vizinhanças de hoje já não têm a característica de vizinhanças. Os cumprimentos já não são tão afáveis nem tão frequentes. E quando você finge não ver seu vizinho, para não o cumprimentar, está discriminando. E se discrimina é porque, ilusoriamente, está se sentindo superior. E nem se toca que é vizinho dele.

E isso não está relacionado só à vizinhança da rua. Está nas ruas, nas praças, nas escolas e onde você estiver. Noite passada, mantive um papo longo com duas de minhas noras. Foi legal pra dedéu. Eu as adoro. Mas caí na esparrela do sogro: falei mais do que a boca, e não lhes dei chance para elas externarem seus pensamentos. Nunca faça isso. Fiquei imaginando como será que elas estão me vendo, a partir daquele papo. Mesmo sabendo caminhar pelas veredas minadas, arriscamo-nos a pisar na mina. E eu pisei. Esqueci-me de que o bom conversador não é o que fala mais, mas o que ouve mais. Como é que eu vou saber como minhas noras pensam, se fiquei o tempo todo lhes dizendo como eu penso? Parti, ignorantemente, para a familiaridade.

É bem verdade que não teremos mais o tipo de vizinhos que se sentavam nas calçadas para o papo da noite. Mas isso não quer dizer que ignoremos nossos vizinhos. Não nos esqueçamos dos nossos colegas de trabalho, nem dos da rua, para um papo, vez por outra, mais sem vulgaridade. O respeito é tudo. Pense nisso.

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