Embora um advogado tenha divulgado um vídeo prometendo uma bomba sobre a denúncia feita no Ministério Público Federal (MPF) sobre um suposto esquema fundiário em Roraima, que envolve autoridades de alta patente, não é de hoje que o assunto a respeito da questão fundiária é considerado nitroglicerina pura, com os rumorosos casos sendo abafados ou esquecidos ao longo dos anos.
Para não ir muito longe, basta lembrar da morte do comerciante Darci Jesus da Rosa Júnior, à época com 56 anos, que era conhecido como Nino Rosa, que foi executado com dois tiros na calada da noite de 21 de agosto de 2013, no bairro Mecejana, área central de Boa Vista. As evidências apontaram para um crime relacionado à questão fundiária, envolvendo um esquema montado dentro do Instituto de Terras de Roraima (Iteraima), conforme foi divulgado pela imprensa.
Como havia indícios de gente graúda envolvida, até hoje não sabe que fim levou a investigação do bárbaro crime. Apenas se soube que Nino Rosa tinha proximidade com um ex-diretor daquele órgão fundiário e esteve envolvido em conflitos por causa da posse de terra. Em tempo, naquela época já havia em curso investigações pela Polícia Federal sobre irregularidades fundiárias denunciadas pelo Ministério Público Federal.
Outros fatos ocorreram, mas como a política mudou e os tempos são outros, vamos saltar para os dias atuais, em que os crimes ligados à questão fundiária nunca cessaram. Um dos casos foi investigado pela Operação “Terra de Ninguém”, da Polícia Civil de Roraima, em abril do ano passado, portanto há um pouco mais de um ano, que prendeu cinco pessoas envolvidas na execução do empresário e corretor de imóveis Zirley Cléber Barros, de 47 anos, ocorrido no dia 30 de janeiro daquele ano, por coincidência no bairro Mecejana.
As investigações apontavam que a execução do empresário estaria relacionada à negociação ilícita de terras públicas, “esquentadas” mediante fraude documental em processos de regularização fundiária nos estados de Roraima e Amazonas. Provas indicavam que os investigados teriam movimentado milhões de reais entre os estados de Roraima e Paraná no curto espaço de um ano, dentro de um grande esquema fundiário. Outro caso sobre o qual não se ouviu mais falar.
Como é possível notar, no ano passado a polícia já falava em um grande esquema fundiário que movimentava milhões, que envolvia gente dos estados do Amazonas, Roraima e Paraná. Na atualidade, um advogado fez uma denúncia no MPF que vai mais além, apontando envolvimento não somente de Amazonas e Roraima, mas também de supostas vítimas que moram nos Estados Unidos, o que amplia ainda mais o leque do problema para uma corte internacional.
E os crimes ligados à questão fundiária seguem. Na semana passada, dia 23 de abril, o casal de agricultores Jânio Bonfim de Souza, de 57 anos, e Flávia Guilarducci de Souza, de 50 anos, foram baleados por quatro homens armados que invadiram sua propriedade, tendo os dois morrido em sequência. Os indícios apontam para um possível esquema de irregularidade fundiária, em que as propriedades têm documentação “esquentada” para que outra pessoa, geralmente uma pessoa influente, tome posse como “verdadeiro” proprietário.
Portanto, a indefinição fundiária, que se arrasta historicamente em Roraima, não é um problema localizado, ou por falta de vontade política, ou devido a questões burocráticas. Os casos de assassinatos e seguidas denúncias de esquemas milionários mostram a existência de interesses inconfessáveis de gente influente, cujo desenrolar dos fatos não pode ser dito abertamente, exemplo dos inquéritos de assassinatos que nunca são concluídos ou logo abafados.
A questão fundiária sempre foi um caso de polícia, muito mais do que um problema político. Mas quem terá coragem de meter a mão nessa combuca?
*Colunista