JESSÉ SOUZA

Racismo não pode ser tolerado nos Jogos Escolares como se fosse apenas uma ‘provocação’

Os Jogos Escolares não podem servir de porta de entrada para o racismo (Imagem: Divulgação)

É preciso que a Secretaria Estadual de Educação e Desporto (Seed) tome sérias providências para apurar a denúncia de racismo e preconceito, durante os Jogos Escolares de Roraima deste ano, sofridos por estudantes de escolas indígenas e de escolas localizadas nos bairros da periferia de Boa Vista. Os estudantes indígenas foram insultados com gritos de injúria racial e os alunos da periferia chamados de macacos.

Não basta apenas trabalhar a conscientização e ações afirmativas. É necessário identificar e punir quem cometeu esses crimes, além de tomar medidas dentro do regulamento dos Jogos Escolares para punir equipes de escolas cujas torcidas pratiquem qualquer tipo de injúria racial, as eliminando da competição sumariamente.

Os Jogos Escolares deveriam ser um espaço não apenas de confraternização por meio de esporte, mas também um palco de manifestações de combate ao preconceito racial. No entanto, com a polarização da vida social brasileira acirrada nesses últimos anos de extremismo na política, casos de racismo ressurgiram com força total, inclusive dentro do esporte.

Só para lembrar, o racismo é proibido pelo Código Disciplinar da Fifa e pelo Código Brasileiro de Justiça Brasileira, que preveem sanções severas para os infratores. Então, os Jogos Escolares também precisam adotar medidas para punição exemplar de quem comete ofensas verbais e atitudes depreciativas contra negros, indígenas e outras minorias.

No caso de Roraima, um Estado com a maior população indígena do país, não se pode tolerar o preconceito racial em um evento importante que inclusive serve para o amadurecimento do caráter de jovens e adolescentes que ainda estão sendo apresentados à sociedade e que vão iniciar sua vida universitária nos próximos anos.

Esses casos de injúria racial servem de alerta também para os educadores a respeito da necessidade de se reforçar o trabalho de combate ao racismo e preconceito dentro de sala de aula, que também é um local de convivência de raça, credo e culturas diferentes, além de classes sociais. Daí a necessidade de falar sobre identidade, raízes e tradições históricas.

E o esporte não pode servir de porta de entrada para o racismo como se a manifestação de torcidas fossem apenas “simples provocação”. Não se pode tolerar o racismo de forma alguma, especialmente em um evento de nível estadual. O espaço de prática de esporte precisa refletir o que se aprende dentro de sala de aula. Se algo está errado em uma disputa esportiva entre estudantes, então é porque existe algo dando errado dentro das escolas.

*Colunista

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