Jessé Souza

Raio X de uma saude falida 6461

Raio X de uma saúde falida

O desabafo de um médico, que tirou plantão no Hospital Geral de Roraima (HGR) no dia 26, expõe as vísceras de uma saúde pública falida, fato sempre amenizado pelo Governo do Estado e pelos políticos que detém o comando daquele setor. O caos não se resume à falta de recursos devido aos venezuelanos, a quem é jogada toda a culpa para tentar arrancar dinheiro do Governo Federal, mas também de gerência administrativa e comprometimento dos servidores.

Falta material simples, como um equipo, acessório para aplicar medicamentos em dosagens controladas na veia do paciente. Devido à falta desse acessório no setor do Grande Trauma (GT), uma paciente com hemorragia digestiva alta morreu após longa tentativa de reanimação cardíaca. “Não havia equipo adequado de soro, usávamos um equipo de dieta”, diz o relato.

Outro senhor com edema agudo de pulmão faleceu depois que a equipe médica havia conseguido reverter a parada cardíaca. No momento em que os profissionais tentavam salvar esse paciente, um terceiro morreu porque não pôde ser avaliado a tempo. “Faltava equipe suficiente para a demanda daquele momento”, desabafou. A falta de equipo foi determinante, pois não havia como usar a bomba de infusão contínua, impossibilitando que as medicações fossem aplicadas com a dosagem correta.

O caos seguiu no Raio X, que ficou inoperante por um momento, acumulando pacientes. A Tomografia Computadorizada não está funcionando e pacientes que precisam do exame de urgência devem aguardar horas até que sejam removidos a clínicas de imagem. Um idoso hospitalizado há 4 anos estava jogado ao descaso, com feridas fétidas nas nádegas (“escara decúbito podre”), revelando a negligência de quem ali trabalha. “Como pôde chegar a isso?”, questionou o médico. “Não vamos mudar a saúde, educação, política e muito menos nosso futuro com essa mentalidade”.

O médico frisou que “o comodismo com a situação é quase geral”. “Tem que brigar. Tem que melhorar. Tem que dizer que não está bom. A classe médica está se tornando conivente com a situação da saúde para manutenção de elos políticos”, escreveu frisando que iria denunciar ao Conselho Regional de Medicina (CRM) para solicitar investigação das condições de trabalho no GT e que esperava que os demais profissionais que lá trabalham façam o mesmo.

“Somos nós, agentes de saúde (médicos, enfermeiros, técnicos, odontos, fisios, farmacêuticos…), que devemos impor um basta. Somos a ponta da lança que poderia estar ferindo o sistema do comodismo e melhorando a saúde de nosso povo, pois sabemos das necessidades do SUS [Sistema Único de Saúde]”, frisou. Esse é o resumo do caos de um governo falido.

*Colaborador [email protected] Acesse: www.roraimadefato.com/main