Entre protestos de professores da Universidade Federal de Roraima (UFRR) em greve e aplausos de estudantes estaduais efusivos com o benefício social que irão receber do Governo Federal, também é muito importante destacar o que não foi dito durante a visita do ministro da Educação, Camilo Santana, na manhã desta quinta-feira, 23, quando ele lançou o programa de poupança Pé-de-Meia, que beneficiará 8.027 alunos roraimenses do Ensino Médio.
E o que não foi dito é que entre os anos de 2020 e 2021 o abandono escolar no Ensino Médio aumentou 128% no país, saltando de 165 mil para 377 mil estudantes desistentes da escola, com destaque para as regiões Norte (846%) e Nordeste (218%), as que mais perderam estudantes.
Em Roraima, 3.035 adolescentes abandonaram a escola nesse período de três anos, o que mostra um fato preocupante. Embora os dados da Nota Técnica divulgada pelo Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc) não apontem as causas, uma série de fatores tem contribuído para que estudantes da rede pública desistam de estudar.
Na Capital, várias escolas foram fechadas durante a pandemia e não abriram mais as portas porque os prédios não foram reformados nem passaram por manutenção básica. Inclusive, houve o absurdo de algumas escolas terem adotado a “pedagogia do WhatsApp”, em que os professores passavam as provas pelo aplicativo de mensagens, que eram respondidas e devolvidas para o celular do professor.
No interior e nas comunidades indígenas, até hoje o governo não conseguiu resolver definitivamente as questões do transporte escolar, reforma e ampliação dos prédios das escolas (a maioria construída há 30 anos), a falta de professores de algumas disciplinas e também a falta de merendeiras, fatores estes decisivos para que muitos abandonem a sala de aula ou percam o interesse em estudar.
Além de nenhuma escola nova ter sido construída desde a pandemia, várias delas foram fechadas e extintas, tendo os alunos transferidos para outra unidade mais próxima ou em bairros vizinhos. Até mesmo escolas tradicionais com prédios tombados foram fechadas, entrando em processo de abandono proposital para que o prédio seja demolido no momento oportuno.
Esse é o cenário local dentro do contexto de grande desistência mostrado pelo Inesc. Já que as condições nunca foram ideais para que os alunos sigam estudando, além dos desafios de suas realidades socioeconômicas, então o programa Pé-de-Meia se torna um importante instrumento para incentivar as famílias a manterem seus filhos na escola.
Essa é a grande importância do lançamento regional do programa feito pelo ministro da Educação, em Roraima. No entanto, é necessário que os órgãos de controle se atentem para o que está ocorrendo nas escolas, onde desistência de alunos, condições estruturais dos prédios e falta de gerenciamento para resolver questões antigas são problemas recorrentes e crônicos.
*Colunista