JESSÉ SOUZA

Reconhecimento alcançado por influenciadora indígena se torna um alento  

Mari Wapichana foi eleita como a Melhor Influenciadora de 2024 de Roraima (Foto: Divulgação)
Mari Wapichana foi eleita como a Melhor Influenciadora de 2024 de Roraima (Foto: Divulgação)

No tempo em que internet se tornou uma espécie de inquisição medieval, pronto para lançar na fogueira os povos indígenas e seus defensores, surge como um alento a conquista de uma indígena roraimense. A ex-miss indígena e influenciadora digital Mari Wapichana foi eleita no Prêmio iBest! como a Melhor Influenciadora de 2024 de Roraima, tanto pelo voto popular quanto pela academia da premiação.

Mari já vinha escalando o reconhecimento nas redes sociais por seus conteúdos a respeito da cultura indígena desde que foi eleita a primeira Miss Indígena de Roraima, no ano de 2021, quando ela passou a ser uma embaixadora dos povos indígenas, usando sua popularidade para não apenas enaltecer a cultura, mas também para representar os indígenas nas questões mais polêmicas, a exemplo de dar visibilidade às mulheres indígenas.

Mari Wapichana foi eleita Miss Indígena em 2021, representando as comunidades indígenas de Alto Alegre (Foto: Reprodução/Instagram)

Sempre se valendo da ferramenta do bom humor, Mari Wapichana usa sua grande visibilidade na internet para rebater fake news propagadas a respeito dos povos indígenas, bem como para denunciar  desmandos governamentais nas comunidades indígenas, algo que é histórico e atinge setores importantes, como educação e saúde, os quais são os principais desafios dentro das políticas públicas.

Esse é o grande diferencial, pois normalmente os influenciadores percorrem o caminho da fama mostrando apenas o glamour e a beleza. Quando se trata de questão indígena, muitos se aproveitam das belezas naturais das terras indígenas, do artesanato, da cultura e culinária para se promoverem, ocultando questões importantes sobre a luta pela sobrevivência. Pior: para atacar as pautas indígenas e aqueles que defendem seus direitos.

Esse reconhecimento conquistado por Mari Wapichana tem outro grande significado dentro do grande contexto do crescimento de influenciadores que defendem o garimpo ilegal na Amazônia, que além de darem dicas de como fugir da fiscalização, ainda divulgam tutorial para produzir mercúrio, chamado pelos garimpeiros de azougue. Um deles chegou a postar: “Já dizia meu vovô: acessório é ouro, carro é Toyota e investimento é garimpo ilegal”.

Inclusive páginas pessoais e grupos utilizados por defensores do garimpo ilegal são alvos de uma investigação do Ministério Público Federal no Amazonas. O inquérito é desdobramento de outra investigação da Polícia Federal em Roraima, que apurou suspeitas de crimes contra a ordem econômica por internautas das redes sociais.

Como é possível notar, a conquista da jovem indígena Wapichana tem um papel imprescindível, que vai além de divulgar a cultura e as belezas indígenas, que é ser uma voz de representatividade dos povos indígenas em uma sociedade onde as redes sociais são usadas como instrumento de opressão, preconceito e racismo, em uma verdadeira fogueira medieval da inquisição.

Mari Wapichana sabe muito bem a respeito disso, pois junto com sua popularidade chegaram pesadas tempestades as quais os indígenas em evidência sempre são submetidos, como ataques sobre o seu corpo e sua beleza indígena, piadas sobre a cultura indígena e racismo disfarçado de ironia só pelo fato de ser indígena.

*Colunista

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