JESSÉ SOUZA

Reflexão sobre o encontro fortuito de duas realidades às margens da rodovia  

Política sobre o Turismo deveria estar em pauta constante, pois o interesse do setor do turístico é o bem-estar coletivo (Imagem: Divulgação)

Na bucólica tarde de domingo, em um comércio que estava fechado, às margens do trecho sul da BR-174, na Vila Petrolina, no Município de Caracaraí, um parlamentar podia ser visto conversando sentado a uma mesa com algumas pessoas. A cena foi presenciada por um grupo que descia de um ônibus cheio de alunos e seus professores, pertencentes a uma instituição federal roraimense, os quais estavam voltando de uma viagem técnica de Manaus (AM), que representava o encerramento de um curso ligado ao Turismo.

Em ano eleitoral, não é difícil encontrar um político nas mais longínquas cidades, vilas, assentamentos e vicinais, especialmente nos fins de semana e feriados. Nesse momento pré-eleitoral, todos estão em busca de conversas, conchavos e entendimentos para apoiar candidaturas a vereador  e a prefeito dentro de seu grupo político. Mas chegam disfarçados de interlocutores, ouvidores de demandas e propostas, além de carregados de supostas saudades de correligionários e eleitores.

O que não é fácil encontrar por aí, em qualquer época do ano, é um grupo de estudantes e professores voltando de uma longa viagem técnica no Estado vizinho, cuja ida ou volta de ônibus não dura menos de 14 horas, incluindo paradas técnicas e imprevistas, lutando pela formação no Turismo, um setor renegado pelos políticos e pelas políticas públicas. É a realidade inversa dos políticos que, em suas andanças em períodos eleitorais, nunca falam ou pensam em Turismo e, por consequência, de estrutura mínima para garantir as atividades turísticas.

Enquanto os olhos e pensamentos dos políticos em suas viagens pelo interior do Estado estão focados apenas em votos, a cabeça de quem está lutando por formação em Turismo está cheia de tempestades de pensamentos e sonhos de que um dia o setor turístico terá estrutura, apoio e investimentos necessários para se tornar uma indústria que gere não apenas emprego e renda, mas desenvolvimento nessas localidades pobres em finança e orçamento, mas ricas em belezas naturais, biodiversidade, cultura e história.

O interesse de quem trabalha com turismo cabe muito bem dentro do interesse da população das diversas localidades, que é ter rodovias, vicinais e estradas trafegáveis e seguras, estrutura mínima para as pessoas serem bem acolhidas, comunidades fortalecidas em seus empreendimentos, imóveis regularizados, instituições funcionando etc. Ou seja, para o Turismo se desenvolver é necessário apenas aquilo que o povo dessas localidades abandonadas pela política precisa ter para viver dignamente.

Em Petrolina, o choque entre essas duas realidades talvez nem tenha sido percebido por ambas as partes, pois muitos já se habituaram ao desprezo governamental, da mesma forma que muitos políticos também estão na letargia de não enxergar o Turismo como um fator importante para o desenvolvimento; muito pelo contrário, há quem pense que Turismo anda de mãos dados com o atraso porque defende a proteção ao meio ambiente, algo que eles têm arrepio só de ouvir falar.

*Colunista

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