Reflexos de um passado bem recente que podem ser sentidos em mais uma operação policial
Jessé Souza*
A Operação Tabuleiro, deflagrada em Roraima nesta quarta-feira, pela Polícia Federal, chama a atenção para o que esta coluna vem alertando há um certo tempo, a respeito do risco de esquemas antigos voltarem a tomar o controle do sistema prisional e da política, como já ocorreu em um passado recente.
A partir de quando houve intervenção das forças federais, o sistema prisional voltou ao controle do Estado brasileiro, cessando esquemas antigos que dominavam a Penitenciária Agrícola de Monte Cristo, por meio de conluios com lideranças de criminosos e agentes públicos corruptos.
Enquanto o crime organizado dava as cartas no presídio, por meio de esquemas, havia outros conluios que minavam recursos do sistema prisional. Tudo foi relatado pela Agência Brasileira de Inteligência (Abin), órgão que reúne os arapongas oficiais, ao emitir um relatório que foi definitivo para o Governo Federal decretar intervenção em Roraima.
O sistema prisional roraimense estava em colapso e poderia se transformar em um novo palco de massacre de presidiários, divididos entre facções criminosas. Nesse mesmo momento, os servidores públicos passavam por sérias necessidades devido aos salários atrasados. Havia a imigração desordenada crescente e uma criminalidade incontrolável.
As autoridades federais estavam preocupadas com a possibilidade de um novo confronto entre facções nos presídios, que poderia deflagrar novos conflitos generalizados em outros estados, cujas penitenciárias também estavam dominadas pelo crime organizado. O momento era crítico e Roraima se tornou a grande preocupação porque o Estado havia partido o controle do sistema prisional
A saída foi uma intervenção federal no Estado, que foi seguida de três operações da PF sobre investigações de corrupção na merenda escolar, no transporte escolar e no fornecimento de alimentos para o sistema prisional. Essas operações da PF resultaram na prisão de dois deputados eleitos.
O caso específico sobre o fornecimento de refeições para o sistema prisional envolve não somente um deputado, mas também um atual vereador (que na época ainda postulava o mandato) e o filho da então governadora. Outro envolve uma deputada no caso dos recursos do transporte escolar. Aqui está o retrato do Estado naquele momento crítico.
Os reflexos de tudo isso ainda podem ser sentidos hoje, conforme demonstrou a Operação Tabuleiro, que visa impedir que o sistema prisional seja dominado pelo crime organizado outra vez, e a criminalidade no Estado. Ontem uma cabeça decapitada foi encontrada no lixo em uma rua do bairro Pricumã, uma área central da cidade, sinal de mais uma execução em acerto de conta ou na disputa entre facções.
Na política, os atores daquele período crítico estão todos aí, se articulando e com poder de mando nas decisões nos poderes constituídos. As facções criminosas, por sua vez, depois de sufocadas no sistema prisional, agora estão atuando no garimpo ilegal em terras indígenas, cuja atividade altamente degradante ao meio ambiente e que coloca em risco a sobrevivência dos Yanomami é incentivada pelos políticos.
Enquanto isso, o eleitor… bem… o eleitor ainda vai se pronunciar em outubro…
*Colunista