Jessé Souza
Rima Petrolao e Petrolinho 10 04 2015 849
Rima, Petrolão e Petrolinho – Jessé Souza* Já foi pior. No início da década de 80, o político tinha que andar com dinheiro trocado no bolso para atender pedidos imediatos de eleitores que o cercavam de todas as formas para pedir algo. O povão cercava o político e só ficava satisfeito quando recebia alguma coisa, nem que fosse umas gostas de colírio nos olhos. O governador Ottomar Pinto, que oficializou o assistencialismo no Estado, tinha assessores para receber bilhetes com os mais diversos pedidos, entre eles emprego no governo e passagens aéreas, ou anotar na agenda pedidos de favores em secretarias que precisavam do aval do chefe do Executivo. Ottomar era célebre em ter dinheiro trocado no bolso para doar ao povo que o cercava como se ele fosse uma celebridade. Em tempo de campanha eleitoral, não hesitava em lançar cédulas de dinheiro à multidão, no bom estilo Silvio Santos. A prática enraizou-se em Roraima. Os gabinetes parlamentares ficavam apinhados de pedintes. Pedia-se de tudo, do dinheiro para a botija de gás ou para contas de água e luz a materiais de construção. O campeão mesmo era pedido de emprego, a ponto de o povo não querer mais trabalho, apenas emprego para receber sem trabalhar, se possível. Com o “escândalo do gafanhoto” e, mais recentemente, com o rigor da legislação eleitoral que coíbe a compra e venda de votos, a realidade mudou muito, embora os pedintes tenham se “profissionalizado” e os políticos se modernizado na arte do assistencialismo. Mas um fato é certo: sabe aquele material de construção ou o dinheiro que comprou se voto em forma de boca de urna nas eleições passadas? Pois é, ele veio do Petrolão e de outros esquemas locais que ajudaram a quebrar o Estado. Então, na hora de culpar um governante, um partido ou um grupo apenas, lembre-se que o propinoduto da Petrobras teve um comparsa, que foi o eleitor acostumado a vender seu voto, além de vários partidos que se lambuzam com a corrupção oficial. Não há venda de voto sem consequências ruins para o povo. Todos os milhões (ou seriam bilhões?) que foram subtraídos para alimentar a bandalheira sem fim que se vê com o dinheiro da Petrobrás serviram para a compra de voto e de apoio político Brasil afora em conluio com partidos que fatiaram o poder, principalmente o PMDB. Então, antes de atacar corruptos e estigmatizar um único partido, faça uma análise pessoal sobre o papel do eleitor. Se você faz parte dessa grande parcela que vende seu voto ou acha que o político deve prestar algum tipo de favor para conquistar voto, saiba que você faz parte, também, do grande propinoduto que se chama Petrolão. Desta forma, você não passa de um petrolhinho safadinho (só para rimar e ficar bonitinho!). *Jornalista [email protected]