JESSÉ SOUZA

Rodoviária e a situação dos migrantes que ocupam aquele espaço que deixará de ser público

Diariamente, centenas de venezuelanos chegam a Roraima pela fronteira com Pacaraima (Foto: Divulgação)
Diariamente, centenas de venezuelanos chegam a Roraima pela fronteira com Pacaraima (Foto: Divulgação)
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Diariamente, mais venezuelanos chegam a Roraima pela fronteira com Pacaraima, ao Norte do Estado (Foto: Divulgação)

A privatização da Rodoviária Internacional de Boa  Vista, localizada no olho do furacão da migração em massa de venezuelanos, está sendo considerada a saída para dois grandes problemas que o governo estadual nunca conseguiu enfrentar: a própria migração desordenada e a degeneração da rodoviária, refém do descaso que vem desde os governos anteriores.

Mesmo antes da chegada massiva de imigrantes, a rodoviária já vivia a incompetência e o desleixo de outros governos, que nunca deram a importância devida para aquele terminal, imprescindível para o desenvolvimento do turismo e para a locomoção de pessoas a negócios ou a passeio, tanto para os municípios do interior quanto para Manaus (AM).

O atual governo sempre fez vistas grossas para a situação não só da rodoviária, mas também para a tomada de todo espaço interno e externo daquele local por venezuelanos que chegam diariamente fugindo da grave crise de seu país. O fato é que a migração em massa nunca fez parte da política do governo local, que joga toda responsabilidade para o Governo Federal e para as Organizações Não Governamentais (ONGs).

Obviamente que a maior responsabilidade pela migração venezuelana é do Governo Federal, mas as autoridades locais sempre tentaram se esquivar do problema de alguma forma, lavando as mãos. O governo local abraçou a primeira oportunidade de se livrar da rodoviária, fustigada pela ocupação de migrantes, e da responsabilidade de ordenar a ocupação daquele espaço pelos estrangeiros que não têm onde ficar.

Significa que a empresa que irá administrar a rodoviária pelos próximos 25 anos terá que arcar com toda responsabilidade não apenas de modernizar o terminal rodoviário, mas também de encarar uma solução para a desocupação do espaço pelos migrantes, que não apenas acampam no entorno do prédio, calçadas e estacionamento, como também dormem na área interna e usam os banheiros públicos.

Está muito óbvio que o problema será apenas transferido de lugar, ou seja, os venezuelanos terão que ir para outro local, seja para a marquise das lojas ali localizadas, praças, meio-fio ou até mesmo prédios públicos abandonados. Não se pode esquecer que as lanchonetes instaladas ao lado da rodoviária tiveram que fechar as portas por não suportarem mais a situação, enquanto nenhuma autoridade saiu em busca de uma solução.

 E isso significa que as autoridades precisam se antecipar , e não apenas lavar as mãos achando que privatizar a rodoviária irá livrá-los de suas responsabilidades. Como a iniciativa privada enxerga apenas lucro, não medirá esforço para ordenar aquele espaço, o que significa que os migrantes sem-teto terão que ir para algum outro lugar.

Se não houver uma ação para se antecipar esse futuro próximo, haverá consequências sérias para todos, pois novos espaços na cidade deverão ser ocupados por essas pessoas que irão deixar a rodoviária da Capital, que se tornou a primeira referência para os estrangeiros que chegam fugidos de seu país.

Para piorar, o rompante do presidente venezuelano Nicolás Maduro,  ao incitar uma guerra, faz com que mais pessoas deixem o seu país, com receio de algo possa piorar ainda mais. É por isso que a privatização da rodoviária irá apenas transferir o problema de lugar. As autoridades locais não irão se livrar de suas responsabilidades, por isso é necessário se antecipar ao que está por vir.

*Colunista

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