JESSÉ SOUZA

Rumores de um pacto da criminalidade e o desenho da atuação das facções em Roraima

Detentos na Penitenciária Agrícola de Monte Cristo, onde facção manteria uma base (Foto: Divulgação/UOL)
Detentos na Penitenciária Agrícola de Monte Cristo, onde facção manteria uma base (Foto: Divulgação/UOL)

As autoridades de segurança pública precisam estar preocupadas com os rumores de uma provável aliança das principais facções criminosas do país dentro do Sistema Penitenciário Federal (SPF), em que lideranças do Comando Vermelho (CV) e do Primeiro Comando da Capital (PCC) estariam costurando um pacto. Tal acordo não põe em alerta apenas o sistema prisional roraimense, mas a Segurança Pública de uma maneira geral.

Como é público e notório, a realidade local anda sob sinal vermelho há um certo tempo, diante de autoridades e policiais investigados ou presos por envolvimentos em crimes, especialmente assassinatos, formação de milícias e envolvimento com o narcogarimpo. Nesse meio, o crime organizado tem se fortalecido a partir da expansão de seus negócios com o garimpo ilegal e a chegada de facções venezuelanas que se tornaram a conexão para o tráfico de armas pesadas.

Fonte: UOL

A possível união das principais facções brasileiras poderá significar o fortalecimento do crime organizado em Roraima, onde as facções já atuam com seus territórios bem definidos, o que também é de conhecimento da Promotoria de Justiça Criminal do Ministério Público de Roraima (MPRR), fato este que vem sendo exposto desde o ano passado pela imprensa nacional que acompanha as operações policiais de combate ao garimpo ilegal na Terra Indígena Yanomami, na fronteira com a Venezuela.

Essas matérias apontam que o PCC dividiu Roraima em 19 regionais para controlar o tráfico de drogas no principal presídio o roraimense, a Penitenciária Agrícola de Monte Cristo, nos bairros da Capital e municípios do interior. Essas 19 áreas serviriam não apenas para controlar o tráfico de drogas, mas também armazenar armas de fogo, munições e expandir os negócios ilícitos.

A regional de número 19 estaria instalada no garimpo em terra indígena. Boa Vista, que tem o status de Capital-Estado, concentraria a maior parte das regionais administradas pela facção, no total de cinco. Também haveria regionais localizadas em Rorainópolis, no Sul do Estado,  região esta sob domínio do CV e de outras facções do norte do país, principalmente com base no Amazonas.

Fonte: UOL

Embora não exista um acordo formal entre as facções, a ausência de confrontos sugere um pacto informal entre PCC e CV em Roraima de olho no comércio de arma, o que coloca a facção Tren de Aragua também dentro desse pacto. Existem informações de que o CV se fortaleceu diante desse contexto, ao adentar para exploração do garimpo ilegal, além de manter bases na Vila de Nova Colina, em Rorainópolis, e também em alguns bairros de Boa Vista.

Sob a letargia total das autoridades roraimenses, o crime organizado venezuelano também se fortaleceu e domina os bairros 13 de Setembro, Pricumã, São Vicente e Calungá, conforme vem sendo divulgado. Não é só o Tren de Aragua. Outras facções venezuelanas também se estabeleceram na Capital e interior, como o Tren de Guayana e o Sindicato de Las Claritas. Ainda não ficou bem claro, mas os fatos mostram que os criminosos ainda disputam poder.

Para não alarmar muito, os criminosos venezuelanos trocaram os crimes de esquartejamento com corpos desovados em via pública, que era muito comum nos últimos anos, pelo cemitério clandestino montado na área de mata às margens do Igarapé Pricumã, onde os corpos de suas vítimas eram enterrados em covas rasas. O fato era de conhecimento das autoridades há cerca de um ano, mas também ninguém ligou porque se tratava de venezuelanos matando venezuelanos.

Esse é o resumo da ópera bufônica da criminalidade em Roraima, em que o crime está bem estruturado e se prepara para se organizar ainda mais, caso ocorra essa oficialização de um pacto no sistema prisional. Enquanto isso, mesmo depois dos seguidos escândalos de crimes em Roraima, não se viu uma reação à altura por parte das autoridades em relação ao que a situação requer.  

*Colunista

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