JESSÉ SOUZA

Se mal conseguem enfrentar crimes da vida real, logo os bandidos virtuais ficam livres

Governo não tem estrutura nem interesse para enfrentar os criminosos virtuais com suas novas dinâmicas (Imagem: Divulgação)

Os criminosos há tempos mudaram suas dinâmicas de crimes e partiram para o mundo virtual, um campo muito fértil para bandidos sem rostos diante de um público que ainda não se familiarizou com o campo aberto da internet e as chamativas redes sociais. No entanto, as autoridades sequer conseguem enfrentar o crime no mundo real e, não poderia ser diferente, estão perdendo feio para os criminosos cibernéticos.

Em Roraima, onde tudo demora a acontecer ou a chegar, a população é castigada por várias formas de crimes virtuais praticados sem que a Segurança Pública esteja preparada para esses novos tempos. Ninguém escapa, muito menos os políticos e outras autoridades. O vice-governador Edilson Damião foi a público, por meio de suas redes sociais, para informar que estavam usando dois números de celular em seu nome para aplicar golpes.

Mas o que o vice-governador queria afirmar, na verdade, é que ele foi alvo de criminosos cibernéticos, os quais clonaram provavelmente seu número do WhatsApp ou o chip da operadora para que se passassem por ele e assim aplicar golpes no Estado ou fora dele. Se não emprestou os celulares para alguém ou teve seus aparelhos furtados ou roubados, então significa que ele foi alvo da bandidagem virtual. Simples assim.

Não dizer que foi vítima de bandidos virtuais tem a oculta intenção de não afirmar que toda a população está vulnerável a ataques de bandidos virtuais. E que, por tabela, o governo do qual ele é vice não está estruturado para as novas modalidades de crimes. Se mal consegue dar estrutura para as polícias enfrentarem o crime organizado da vida real, obviamente que faltam estrutura e inteligência para esses novos tempos. Até porque, para enfrentar o crime organizado, é preciso de inteligência para atuar nas sorrateiras trilhas da internet.

A situação é preocupante. E os números do Anuário Brasileiro de Segurança Pública 2023 comprovam. A estatística divulgada em julho passado aponta que, em Roraima, o estelionato por meio eletrônico saltou de 59 casos, no ano de 2021, para 759 ocorrências no ano de 2022, uma variação de 1.155,1%. Como não há um enfrentamento das autoridades para estes casos, a tendência é o cenário piorar. O vice-governador que o diga.

Mas é impensável que as autoridades locais, especialmente os políticos, estejam preocupadas com isso. Se corpos decapitados e desovados nos bairros centrais de Boa Vista não alarma os políticos, se resumindo à crônica policial diária, então parece muito óbvia a não existência de alguém preocupado com o avanço dos crimes cibernéticos.

Até porque, enfrentar essas novas modalidades de crime exige alto investimento para treinar policiais civis e equipar um setor específico e moderno com que há de mais avançado na tecnologia. Por falta de estrutura, que envolve falta de interesse político, a Polícia Civil mal consegue investigar os crimes corriqueiros.

 *Colunista

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