Na questão da Segurança Pública, é preciso ficar de olho no que está ocorrendo nos países vizinhos como o Peru e, principalmente, o Equador, onde estourou nos últimos dias um conflito interno armado, resultado do poder de gangues que se estabeleceram a partir do narcotráfico. Embora seja uma realidade específica desses países, existem paralelos que precisam ser observados em Roraima, que se tornou rota de drogas, realidade esta que se cruza com outro tipo de crime, o garimpo ilegal.
A crise no Equador não é de hoje. Vem se agravando nos últimos três anos até que, em 2023, o país registrou um recorde histórico de homicídios. Na esteira dessa realidade, aquele país se tornou um importante centro regional de armazenamento, processamento e distribuição de drogas, o que fortaleceu as mais de 20 quadrilhas criminosas que operam por ali, o que culminou nas ações orquestradas da bandidagem nos últimos dias.
Em Roraima, a criminalidade também vem saindo do controle nos últimos quatro anos à medida em que o garimpo ilegal estourou e se ampliou na Terra Indígena Yanomami, momento em que facções venezuelanas e brasileiras que atuam no tráfico de armas, de drogas e de pessoas convergiram para a garimpagem na fronteira com a Venezuela. Não há estatísticas locais, mas a crônica policial mostra que o ano de 2023 irá aparecer como o mais violento dos últimos anos, senão de todos os tempos.
Não por coincidência, aportou por aqui uma facção venezuelana violenta, chamada de Trem de Arágua, cuja especialidade é garimpo ilegal no Sul da Venezuela, tráfico de armas, de drogas e de mulheres, além da truculência de suas ações, as quais puderam ser vistas ao longo de 2023 com corpos decapitados e desovados nas áreas centrais de Boa Vista, especialmente nas proximidades de venezuelanos, servindo como recado.
No Peru, no fim de semana, a polícia resgatou 40 meninas que eram exploradas sexualmente por esta mesma facção Trem de Arágua, que espalhou o terror na América do Sul com homicídios e extorsões. As vítimas, a maioria venezuelanas, tinham idades de 12 a 17 anos. Em Roraima, existem relatos de exploração sexual e estupro de adolescentes venezuelanas que vivem em abrigos, inclusive um casal de venezuelanos chegou a ser executado barbaramente, em Boa Vista, no ano passado, porque ameaçou denunciar a ação do grupo criminoso nas áreas onde vivem venezuelanos abrigados.
Os acontecimentos nesses países precisa ser vista com atenção, pois acabam por revelar uma atuação semelhante por parte do crime organizado em Roraima, no mesmo rastro do narcotráfico, onde a criminalidade saiu do controle desde o fortalecimento da garimpagem em terras indígenas, sem que o Estado consiga fazer frente, a não ser apresentar corpos de bandidos mortos em confrontos na periferia, nas últimas semanas, conforme a versão oficial da polícia.
No Equador em crise, os criminosos montaram um poder paralelo com o poderio que conquistaram a partir dos lucros da venda de drogas, cujos tentáculos se ampliaram por toda sociedade equatoriana, bem como nas próprias instituições por meio da corrupção. Em Roraima, investigações já apontaram envolvimento de políticos com o tráfico de droga e de policiais com milícias armadas em apoio ao garimpo ilegal, o que é um forte indicativo de um poder paralelo tentando se estabelecer.
No país equatoriano, os criminosos mantêm seus principais centros de comando e operações nos presídios. Em Roraima, o sistema prisional só está sob controle porque houve uma intervenção federal, depois de investigações da contaminação de todo o sistema, inclusive com ligação com a corrupção eleitoral. Daí a importância de as autoridades estarem atentas aos presídios, para que a situação jamais saia do controle, sob pena de serem repetidas cenas de selvageria não apenas dentro das prisões, mas de ataques à sociedade e aos poderes constituídos, como ocorreu no passado.
O momento requer muita atenção. As constantes apreensões de drogas e operações policiais mostram que está havendo uma reação por parte das autoridades. Mas é necessário muito mais, com maior investimento na Segurança Pública, inclusive com atenção especial do Governo Federal, diante da perigosa situação que se instalou por aqui. Não é possível viver no remendo das ações paliativas ou isoladas. O que está ocorrendo no Equador é para ser refletido mediante a perigosa realidade local.
*Colunista