Situação da BR-174 é enredo de um filme em preto e branco reprisado
Jessé Souza*
O pior acabou ocorrendo diante do retumbante descaso de nossas autoridades com a BR-174, que corta o Estado de Roraima de Norte a Sul, o interligando ao restante do país e à fronteira Norte do país. Sem qualquer fiscalização, apesar das seguidas matérias divulgadas pela imprensa a respeito da situação que já era crítica da rodovia, as providências foram tão pífias que não impediu que as crateras devorassem o resto do asfalto que existia e as enxurradas do inverno obstruísse o tráfego.
Embora seja a rodovia mais importante para a economia roraimense e opção de deslocamento de pessoas para outros estados a partir de Manaus (AM), a fim de fugir dos preços abusivos da passagem aérea a partir de Boa Vista, não houve cobrança por parte de parlamentares federais ou mesmo a formação de comissão para percorrer a estrada, como costumam fazer deputados estaduais para cobrar o asfaltamento da BR-319 que interliga o Amazonas a Rondônia.
A morte da funcionária do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) na BR-174, que capotou o seu carro ao bater em um buraco no Km 383, no Município de Caracaraí, na quinta-feira, é consequência do histórico descaso com esta importante estrada. Os riscos de novas tragédias anunciadas são iminentes ao longo de toda a rodovia, de Manaus à fronteira com a Venezuela, onde enormes carretas fazem zigue-zague na pista para desviar das crateras.
A interrupção do tráfego no Km 309 da BR-174, também no Município de Caracaraí, no sábado, por conta de uma cratera aberta pela enxurrada, pode ser creditada na conta desse descaso generalizado, em que os políticos estão integralmente ocupados com seus conchavos políticos visando às eleições de outubro ou já em aberta campanha eleitoral antecipada desde o ano passado.
Embora não se possa culpar os políticos pelos fenômenos da natureza, os problemas daquela rodovia são conhecidos de velhos tempos, especialmente a cada inverno rigoroso, quando lagos, rios e igarapés transbordam, invadindo a pista, abrindo crateras, estourando bueiros ou mesmo arrastando o aterro da estrada.
Quando finda o inverno, providências nunca são tomadas para eliminar esses pontos de alagamento que fatalmente irão apresentar problemas futuros quando ocorrerem chuvas intensas, a exemplo do que está acontecendo neste mês. Da mesma forma que não são tomadas providências nas estradas estaduais e vicinais que servem para escoar a produção de pequenos produtores.
A partir do que está ocorrendo com a BR-174 é possível imaginar a situação das demais estradas, muitas delas sem importância para os governos e principalmente para o agronegócio – e muito menos para os políticos que costumam aparecer no interior do Estado no último ano de mandato, como é de praxe na política desde muito tempo.
O fato é que isso não pode mais prosseguir desta forma, como se fôssemos um Estado de política de faz-de-conta, em que os grandes problemas são ignorados até que a situação fique fora de controle ou – no caso das estradas – quando tragédias são registradas ou o tráfego fica interrompido como se fosse um filme repetido. Não é mais possível seguir desta forma em um Estado que diz almejar o desenvolvimento.
*Colunista