Jessé Souza

So tenho a agradecer 14 10 2014 150

Jessé Souza* Na semana passada, fui convidado a conceder uma entrevista ao programa Margem Cultural, no Canal 20, da apresentadora Marleide Cavalcante. Há um certo tempo, eu venho recusando participar de programas de rádio ou de TV por questão pessoal, pois não me sinto bem ficar emitindo opinião pessoal fora desse contexto da mídia escrita, como faço neste espaço, onde tenho tempo para refletir antes de ser publicado. Nas discussões ao vivo ou em programas gravados, eu acabo excedendo no verbo e falando coisas que ainda ofendem a opinião pública roraimense conservadora, que rotula, que exclui e segrega. Por isso tenho preferido escrever, pois aqui ainda há um certo tempo para retirar ou aliviar algo. Mas fui ao programa da Marleide porque sei que ele tem um cunho cultural, sempre gravado em cenários agradáveis. Quando estive em Brasília e São Paulo, este ano, na companhia de Marleide, eu disse a ela que desejaria participar do programa, pois achei extraordinário o cenário com artistas, gente bonita e descontraída. Então, fui para a gravação do programa, no início da noite de quinta-feira, sabendo que daria uma entrevista e ficaria ali, no meio daquele cenário que imaginei. Porém, não apenas fui entrevistado como acabei sendo homenageado com uma placa pelo meu trabalhado que venho realizando na imprensa roraimense por meio da Folha. Eu fiquei tão emocionado que nem me lembro se agradeci ou se me mostrei feliz na frente das câmeras. Fui pego de surpresa e sem saber nem como agir. Estou tão habituado a receber críticas por causa de minhas opiniões e da minha postura combativa na imprensa, que fico paralisado quando surgem elogios. E foi o que aconteceu naquele momento. Então, escrevo hoje para agradecer imensamente ao programa Margem Cultural, na pessoa da Marleide Cavalcante, pela homenagem que recebi. É tão difícil, em Roraima, sobreviver criticando o sistema e seus condutores que uma homenagem desta se torna importante não por questão de vaidade, mas para a vida profissional. Ser homenageado pelo programa foi um alento por saber que meu trabalho, na condução de um veículo de comunicação e na opinião crítica a governos e governantes, condutores e conduzidos, tem surtido algum fruto. Às vezes, quem trabalha com contestações se depara com desânimos e uma vontade de largar tudo, por achar que essa indisposição com o poder e com pessoas não leva a nada ou não encontra qualquer eco. Eu, que fujo de elogios por achar que meus pensamentos precisam ser maiores que minha pessoa, senti que é preciso, sim, ter um momento de reconhecimento para que se possa acreditar que trabalhar por um ideal, seguindo um caminho tortuoso, tem seus méritos. Obrigado, Marleide e a toda sua competente equipe do Margem Cultural. Vocês deram-me uma injeção de ânimo para que eu possa continuar acreditando que o papel da crítica e do jornalismo comprometido com a sociedade encontra um eco. *Jornalista [email protected]