Jessé Souza
Somos Charlie sim 16 01 2015 508
Somos Charlie, sim! Jessé Souza* Começaram a surgir, nas redes sociais, opiniões que tentam justificar a ação terroristas de extremistas religiosos que invadiram a Redação do jornal satírico francês Charlie Hebdo e mataram 12 pessoas, a maioria jornalistas e chargistas. O argumento é de que houve intolerância religiosa e desrespeito à fé alheia por meio das charges publicadas pelo periódico. E, dentro desse argumento, surgiram vozes criticando a liberdade ampla de expressão e já sugerindo que houvesse policiamento e cerceamento sob o argumento de “intolerância religiosa”, como se a liberdade ampla e restrita para se expressar também fosse um crime ou uma justificação para sofrer ataques e retaliações. Nada justifica a atrocidade praticada contra os profissionais do Charlie. Nada. Os excessos cometidos sob a liberdade de expressão e de imprensa não podem ser resolvidos na bala ou com qualquer tipo de agressão. Para isso existem os tribunais e as formas legais de se coibir os crimes e excessos provocados pela liberdade que a democracia permite. Se verdadeira a lógica dos que estão culpando e justificando a chacina na França pelos excessos cometidos em nome da liberdade de expressão, então os católicos e evangélicos teriam o “direito” de trucidar cineastas, escritores e jornalistas que, ao longo dos últimos anos, produziram filmes, escreveram livros e produziram textos insinuando e até mesmo afirmando que Jesus Cristo teria tido um relacionamento homossexual ou um caso amoroso com Maria Madalena. Não me lembro se esses autores, que ganharam muito dinheiro com seus argumentos e produções, considerados hereges e ofensivos aos cristãos, sofreram algum tipo de ataque por parte dos religiosos que têm Jesus Cristo como o símbolo maior de sua fé. A liberdade de expressão permitiu que esses autores questionassem a imagem do Filho de Deus que está na Bíblia. Houve, sim, uma mobilização católica para que os fiéis não assistissem aos filmes nem lessem os livros considerados ofensivos à fé cristã. Mas nem os mais ortodóxicos dos católicos planejaram qualquer atentado contra estas pessoas. O ideal francês baseia-se na “justiça, paz e liberdade”, por isso até mesmo os franceses que não gostavam nem apoiavam as publicações consideradas abusivas do Charlie foram às ruas proclamar “Je suis Charlie” (#EuSouCharlie). Eles foram defender o direito do jornal à liberdade de expressão e de imprensa. A intolerância religiosa precisa ser amplamente discutida e os excessos da imprensa ou de liberdade de expressão de qualquer cidadão podem e devem ser punidos na forma da lei. Mas nunca acreditar e defender que a liberdade ampla e restrita seja uma justificativa para chacinas, como a ocorreu na França, ou qualquer retaliação ou agressão em qualquer parte do mundo. *Jornalista [email protected]