Jessé Souza

Tao longe do poder 2032

Tão longe do poder…

Aproveitei o feriadão de Carnaval para conhecer melhor a sede do Município de Uiramutã, localizada numa região isolada e de difícil acesso a 300 Km de Boa Vista, a Nordeste do Estado. Estar localizado em uma região longínqua, na fronteira com a Guiana e Venezuela, significa também estar distante das ações do poder público em todos os níveis. 

A única presença governamental foi durante a estrada íngreme, de muita buraqueira e pedregulhos: as potentes pick-ups da Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai), que parecem fazer questão de correr como se estivessem em um hally das serras, esnobando nossos carros pequenos que se espremem entre os abismos, pedras e buracos. Só no trajeto passaram três por mim.

Depois disso, se vê apenas ausência. Ausência do governo e das prefeituras que largam as estradas e pontes de madeira sem a manutenção necessária, o que gera um complicador a mais para moradores, trabalhadores, visitantes e turistas. Ausência nas comunidades indígenas, sem alternativas.

Na sede de Uiramutã, que é do tamanho do quarteirão de um bairro, havia ao menos três obras abandonadas: a de um ginásio esportivo, largada só com os pilares construídos, a de uma casa de apoio, com previsão de dois apartamentos para policiais militares, e a de uma creche. Todas abandonadas, em flagrante desperdício do dinheiro público e símbolo da irresponsabilidade de gestores e fiscalizadores.

Além disso, como o forte da economia é o turismo (obviamente além da chamada economia do contracheque), sequer existe mínima organização por parte do poder público, ficando tudo nas mãos da iniciativa privada, que precisa se rebolar para atender o público da forma que for possível, sem apoio e sem estrutura.

Não fui em busca de políticos nem de investigar nada, mas a ausência do poder público é tão flagrante que as pessoas com o mínimo de noção percebem quanto isoladas vivem essas comunidades, o que as impõem um martírio a mais, principalmente para aquelas pessoas despossuídas de acesso aos benefícios mais básicos e que precisam se valer do poder público.

Como fui em busca apenas das belezas e potencialidades da região, assinalei tão somente aqueles problemas mais flagrantes que chegaram até a mim. Se eu fosse fazer um trabalho sobre mazelas, abandonos, sofrimento e dificuldades, um jornal inteiro não seria suficiente para narrar tudo.

É a ausência do poder público, que larga as pessoas em outro isolamento, o político e social, as quais passam a viver no desafio de quem está longe do centro onde o poder toma as decisões. E tenho certeza que, como se trata de ano eleitoral, logo mais os políticos estarão por lá, com seus potentes carrões, renovando promessas que jamais serão cumpridas. E quando as urnas se fecharem, voltará o isolamento completo outra vez…

*JornalistaAcesse: www.roraimadefato.com/main