Jessé Souza

Terra muro e porteira 23 12 2014 430

Terra, muro e porteira Jessé Souza* Corrupção e impunidade andam de braços dados. E foi essa maléfica combinação que permitiu o Estado de Roraima chegar a este lamentável estágio de coma. A impunidade só é possível pela situação permissiva adotada por aqueles órgãos que têm a obrigação constitucional de fiscalizar. Foi assim que nos tornamos “terra fértil para corrupção”, com raízes fincadas em todos os poderes desde muito antes de o Estado ser institucionalizado. Antes de fértil, o Estado foi “terra de ninguém”, onde o poder político era supremo, acima das leis e das instituições. Retrocedendo mais um pouco, Roraima era chamado de “terra do muro baixo”, na qual qualquer elemento chegava e se estabelecia pela facilidade com que encontrava para se apoderar de tudo, das devolutas terras a cargos públicos sem concurso. Assim, a terra do muro baixo logo se tornou terra de ninguém, que virou terra fértil para a corrupção, que por sua vez foi alçada à condição de terra da impunidade. Cada sofrimento enfrentado na fila do hospital, por exemplo, tem raízes fincadas nessa terra de oportunismo que sugou, por meio da corrupção, os recursos que deveriam servir para o bem-estar de todos. Não foram os ETs que devastaram essas terras. Não houve nenhuma invasão alienígena responsável por fazer sumir os recursos públicos que chegaram aos montes desde o tempo do Território Federal. Tudo foi sugado por esse grande esquema montado por seguidos grupos que estiveram no poder e que nunca resolveram os grandes problemas do Estado. Não há mais nenhum pudor em se apropriar do bem público. Até mesmo os políticos considerados judicialmente como “fichas sujas” continuam sendo nomeados para cargos públicos ou cotados para continuar comandando o Estado. Os mesmos políticos e os mesmos secretários se revezam no poder como se trocassem de blusa. Da forma que as decisões políticas estão se desenhando, nesses últimos dias que restam de 2014, não se pode esperar mudanças substanciais para melhorar esta realidade, porque as peças responsáveis por deixar o Estado nas atuais condições de penúrias estão sendo mantidas ou apenas trocando de lugar. Ou peças desgastadas do passado sendo apontadas como “novas”. Apesar disso, pouco se viu dos órgãos fiscalizadores para impedir que o Estado chegasse a este quadro pré-falimentar. A impunidade que reinou fez surgir um Estado quebrado e remendado com cuspe, um Frankenstein controlado por aqueles que transformaram o Estado de “terra de oportunidade” em “terra de oportunismo”. Queremos acreditar que este cenário possa mudar para melhor, um dia. Afinal, não suportamos mais os desmandos que só aumentaram nos últimos quatro anos. Porém, se esta impunidade seguir campeando, não nos restará esperança alguma, pois o Estado Roraima continuará uma porteira aberta para os desmandos. *Jornalista [email protected]