JESSÉ SOUZA

Trabalhadores de saúde indígena em risco e agentes de proteção sem pagamento

Profissionais de saúde sentem reflexo do garimpo ilegal nas comunidades Yanomami (Foto: Christian Braga/Greenpeace)

Enquanto o Governo Federal tem focado todas as suas ações e recursos no combate ao garimpo ilegal na Terra Indígena Yanomami, outras situações não menos importantes estão ficando descobertas, a exemplo da saúde e da proteção aos povos indígenas. A crise se instalou em 2023, quando foi decretada a emergência, e encrudesceu em dezembro de 2024, quando assumiu o setor a Agência Brasileira de Apoio à Gestão do Sistema de Saúde Único de Saúde (AgSUS).

Na área de saúde, os trabalhadores dos Distritos Sanitários Especiais Indígenas (Dsei) Yanomami e Leste decidiram que vão entrar em greve a partir da próxima segunda-feira, quando todos os órgãos envolvidos serão avisados previamente da decisão tomada em assembleia geral, realizada nesta quarta-feira, momento em que foram expostos os problemas enfrentados pela categoria.

Em outra ponta, estão os agentes de proteção da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), os quais não têm representatividade e temem denunciar ao público a situação deles, que se agravou no fim do ano, quando ficaram sem receber salário e o 13º. Não havendo previsão de pagamento,  em janeiro esses servidores seletivados foram mandados para casa a fim de aguardarem uma solução por parte do órgão indigenista.

Foram pelo menos 33 agentes mandados para casa, mas somente 15 seguem nessa situação, os quais estão passando por sérias dificuldades. Enquanto isso, fica prejudicado o trabalho de monitoramento e recolhimento de indígenas Yanomami que perambulam pela cidade ou ficam em frente de comércios pedindo dinheiro, ingerindo bebida alcoólica e participando de jogos de azar na calçada de supermercados em Boa Vista.

Se estes servidores estão submetidos a situação de desespero, os profissionais de saúde do Dsei Yanomami correm sérios riscos, pois trabalham sem nenhuma garantia de segurança nos polos. Neste exato momento, os trabalhadores da comunidade Omalai, na região do Auaris, no Município do Amajari, estão pedindo socorro por estarem sofrendo ameaças sofridas por alguns indígenas. Como não há os voos regulares para remoção imediata, os trabalhadores precisam aguardar sob risco de serem atacados.

Na semana antes do Carnaval, trabalhadores em outra ocasião tiveram que ser removidos emergencialmente em um helicóptero por agentes da Força Nacional de Segurança após receberem ameaças de um indígena armado com espingarda. Como esses profissionais ficam sem qualquer proteção, os riscos são iminentes a qualquer conflito entre indígenas ou mesmo desentendimentos devido a regras que indígenas não aceitam.

A pauta da greve decida pelos profissionais é bem ampla, que inclui a reivindicação de pagamento de insalubridade, pernoites e reajuste salarial de 8%, bem como voos regulares para remoções e trocas de equipes, internet em todos os polos-bases, água potável e outras reivindicações para a melhoria de condições de trabalho na Casa de Saúde Indígena (Casai) em Boa Vista.  

Esse é o resumo da delicada situação dos profissionais que dedicam seus trabalhos e suas vidas para os povos Yanomami, atividades estas que se tornaram de risco devido aos reflexos provocados pelo garimpo ilegal nas comunidades, com indígenas armados, com acesso a bebidas alcoólicas e envolvimento com criminosos faccionados.

Se o Governo Federal não tomar providências urgentes, vidas podem ser ceifadas a qualquer momento, como já ocorreu em recentes ocasiões, além das graves questões salariais e condições de trabalhos de profissionais de saúde do Dsei e agentes de proteção da Funai. Há dois anos os seguidos alertas vêm sendo emitidos.  

*Colunista

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