Bom dia,
Hoje é sexta-feira (05.08). A política é como nuvem, a cada momento que olhamos para o céu, ela está diferente profetizou, faz algumas décadas Magalhães Pinto; ex-governador mineiro e do então poderoso Banco Nacional. Um olhar pelo retrovisor na recente história da vida política brasileira e uma observação sobre o cenário em que se desenvolve a atual eleição no Brasil parece dar razão ao experiente e matreiro político, que foi um dos maiores líderes da União Democrática Nacional (UDN) talvez o partido mais expressivo e orgânico do conservadorismo de direta da história republicana brasileira. Uma análise das mudanças no cenário político-eleitoral brasileiro de uma eleição (2018) para outra (2022) parece dar razão a essa compreensão.
Em 2018, os brasileiros e as brasileiras vivenciam o auge da Lava Jato, uma operação que contava com a participação de grupos de procuradores da República e de delegados da Polícia Federal com protagonismo de alguns juízes federais com jurisdição em Varas Federais do Paraná e do Rio de Janeiro. Esse grupo de agentes públicos chamou a responsabilidade de apurar escândalos de corrupção na administração pública brasileira com foco num monumental esquema de corrupção centrado na Petrobrás e noutras conexões da estrutura estatal federal, que pouco tempo antes já fora objeto de escândalo quando o país conheceu a natureza da governança dos governos do PT, por conta das revelações no que ficou chamado de “Mensalão do PT”.
Enquanto um ex-presidente, Lula da Silva (PT), e vários de seus companheiros de partidos, inclusive de agremiações aliadas eram mandados para a prisão por conta do envolvimento na roubalheira do dinheiro público – por sentenças de juízes de Primeira Instância confirmadas em Segunda Instância (Tribunais Regionais Federais) e Terceira Instância (Superior Tribunal de Justiça)-, as operações revelavam em detalhes os escabrosos esquemas de bastidores da política do país. Junto com Lula e seus companheiros foram mandados para a prisão o presidente da Câmara dos Deputados; ex-ministros e quase uma centena de megaempresários que faziam parte do grupo de criminosos montado para surrupiar o dinheiro público.
Eram tempo em que brasileiras e brasileiras assistiam as cenas diariamente expostas pela imprensa brasileira na sua quase totalidade onde pontuavam conversas entre meliantes de colarinho branco com o presidente da República em agenda oficiosa, para tratar de assuntos pouco republicanos e exposição de amigos da alta cúpula da República flagrados no recebimento em restaurante de luxo de malas de dinheiro provenientes de propinas. Eram tempos igualmente onde se descobriu que dezenas de malas contendo nada menos que 50 milhões de reais em dinheiro vivo num pequeno apartamento alugado por um ex-ministro em Salvador. E o espaço da Parabólica não seria suficiente para lembrar outros detalhes revelados pelas investigações.
Nesse conjunto de acontecimentos históricos a sociedade brasileira olhava e sentia uma nuvem de esperança quanto à possibilidade de construção de uma nova ordem política e administrativa no país. E sob essa nuvem de esperança e de possibilidade de mudanças nas práticas políticas e administrativa os brasileiros e as brasileiras foram às urnas em 2018, elegendo por larga maioria (57 milhões de votos) um deputado federal carioca, Jair Bolsonaro, que soube como ninguém interpretar o sentimento da maioria de seus patrícios, com um discurso de combater a velha ordem política e de restauração de valores éticos e religiosos no país. Instalado no Palácio do Planalto, o novo presidente acenou para novos tempos ao convidar para seu ministério, o juiz Sérgio Moro, o magistrado mais destacado no curso da Operação Lava Jato.
Como esperado, os políticos diretamente envolvidos no gigantesco esquema de corrupção que tomou de assalto as estruturas do Estado brasileiro entraram em cena para “estancar a sangria”, e sob a narrativa de que não era aceitável “criminalizar” a atividade política, conseguiram fechar aliança com poderosas forças do Judiciário para fazer com que a densa nuvem que pairava sobre eles fosse dissipada. O primeiro passo foi começar a desmontar (estancar a sangria) da Lava Jato cujo passo fundamental foi a soltura de Lula da Silva, sob o argumento de parcialidade de um único juiz (Sérgio Moro) e de incompetência de fórum da Justiça Federal de Curitiba para julgar seus malfeitos. Lula solto puxou um cordão de gente solta, mesmo daqueles que confessaram seus crimes e até devolveram parte do dinheiro roubado dos cofres públicos.
Mas, o processo de dissipação da nuvem de mudança foi muito mais geral e orgânico. Começa com a dificuldade de aprovação no Congresso Nacional de uma legislação de combate mais rigoroso a corrupção, sonhada por Moro e seus companheiros de Lava Jato, sepultada pelos parlamentares, com a ajuda fundamental do governo. E o processo continuou com a criação de uma legislação que torna muito mais difícil a punição de qualquer corrupto, que é a nova Lei de Improbidade. E ainda veio esta recente decisão dos ministros, sempre eles, de facilitar aos candidatos esconder seus patrimônios, inclusive, sem detalhar o que possuem. E vem mais coisa ainda nesse caminhar. Uma pena!