TV e realidadePouco tempo tenho para assistir TV. Mas, na semana passada, enquanto lanchava em um final da tarde, vi algumas cenas da novela Malhação, da Globo, que me levaram a uma reflexão sobre o que está acontecendo com o Brasil a partir do que vem pregando a mídia televisiva, cada vez mais apelativa em todos os sentidos.
Na primeira cena, três personagem que faziam o papel de adolescentes trocavam de roupa como se fosse algo tão natural, a ponto de eu me senti um retrógrado, pois lembro que, até a minha adolescência, na década de 80, era difícil ver uma mulher com roupas íntimas, a não ser na revista Hermes, aquela de se fazer pedido pelos Correios. Hoje se vê às 18h na TV.
Na cena seguinte, apareciam alunos em completo desrespeito ao professor em sala de aula: um estudante tocando violão, sentado sobre a mesa, uma aluna rebolando, como se estivesse na pista da balada, e os demais fazendo batuque ou observando a cena, enquanto o mestre (negro, não por acaso) entrava na sala, mas não sabia o que fazer, pois nem seu grito foi suficiente para impor ordem.
A novela Malhação é direcionada ao público adolescente, porém, pelo horário, atinge crianças de todas as idades. Obviamente que os pais podem até pensar em ter o controle remoto nas mãos, mas não é esta realidade brasileira, em que os pais precisam deixar os filhos em casa, sozinhos ou acompanhados por outros menores, para poder trabalhar.
Como a TV aberta representa um grande impacto na vida das pessoas, certamente a sua programação dita regras, moda, normas, incentiva atitudes e impõe uma nova realidade nas famílias, cada vez mais isoladas e desestruturadas.
Como crianças e adolescentes ainda estão em formação do seu intelecto e caráter, obviamente que cenas desse tipo fazem uma desconstrução de tudo aquilo que a família, a escola, as regras sociais e a religião constroem para uma boa convivência social e coletiva. E o que é certo acaba sendo considerado errado, e o errado passa a se tornar regra geral.
É claro que a TV traz, em si, sua própria contradição, pois cenas desse tipo podem servir de exemplo de como não agir. Porém, sem contextualização, sem a intervenção da família presente e da escola atenta, dificilmente crianças em formação conseguirão entender a mensagem de outra forma.
Alguém pode dizer que a TV estaria tão somente levando para a ficção o que já é realidade nas escolas e nas casas. Mas não é bem assim. A chamada “caixa mágica”, com seus folhetins apelativos, acabam ditando comportamentos, passando para a sociedade que agora seria “normal” a exploração do corpo, o desrespeito ao professor e o pouco caso com a escola.
Tudo o que os pais batalham para dar uma boa criação é desfeito em alguns segundos de “lição televisiva”. Não é a toa que o Brasil caminha para a esculhambação geral da Nação. A TV é uma das principais responsáveis por isso.