Jessé Souza
Um breve relato 07 03 2015 706
Um breve relato Jessé Souza* A internet possibilita ampliar as coisas e fatos além do que eles são de verdade. Na grande rede tudo é espetacular, grandioso, inovador. Até as mentiras passam a ser espetaculares. Um fato que tem sido ampliado é um coro de voz meio encrespada que pede a volta dos militares como forma moralizar e melhorar o Brasil. Os militares têm um papel importante na defesa da Pátria. Eles são treinados para isso e a população brasileira confia neles, muito embora não exista nenhum inimigo querendo invadir o País (é verdade que existiu um alarde de internet de que o presidente da Venezuela teria dito algo assim). Mas tudo é ampliação de redes sociais usada abertamente para criar pânico. Porém, a partir da leitura História, é possível conhecer um pouco mais do que foi não só a ditadura que os militares impuserem – a qual não é o foco principal deste artigo -, mas também o governo militar e a política da época. O livro “A ditadura militar e os golpes dentro do golpe: 1964-1969”, do jornalista Carlos Chagas, afirma que, antes de ser uma causa, a tomada do poder pelos militares foi uma consequência, uma vez que o presidente João Goulart teria sido ingênuo ao cair na armadilha tanto de radicais de esquerda quanto de provocadores da direita (alguma semelhança com a realidade atual?). Quem saudou o governo militar foi a classe média e muitos viram o golpe (até hoje tem gente que insiste em chamar de “revolução”) como tão somente mais um capítulo da efervescente política brasileira, inclusive parte da Igreja Católica (assim como padres apoiaram também o nazismo na Alemanha). O golpe contou também com apoio de parte da mídia, e O Globo foi um desses braços que ajudaram a encobrir fatos e alienar o povo. O livro de Carlos Chagas cita que o todo-poderoso Roberto Marinho nunca escondeu sua linha ideológica “conservadora e pró-americana” (alguma dúvida da intenção da Vênus Platinada em querer entregar a partilha do pré-sal para os nortes-americanos?). Mas, o que há de se destacar, é que os militares deixaram o poder não porque ouviram os clamores da rua. Eles não tinham mais o que fazer pelo Brasil. Em 1973, o ministro Delfim Neto mentiu sobre a inflação, que dos 12% decretados saltou para mais de 25%. Essa informação foi o grande furo jornalístico da Gazeta Mercantil, na época, que comprovou tudo com documentos. Logo depois, O Globo antecipava a anistia, o fim do AI-5 e a possibilidade de ter eleições diretas. Sem mais condições de conduzir o Brasil, os militares foram abrindo cada vez mais até não conseguirem segurar a volta da democracia. E entregaram um país quebrado. Então, antes de defender a volta ao passado, é bom ler a História para não repetir os erros do passado. *Jornalista [email protected]