A política cultural roraimense – que sempre privilegia artistas nacionais em eventos de Arraial, Natal e Carnaval (política do “au-au”) – perdeu uma rara oportunidade de visibilizar a cultura do Hip-Hop de Roraima no cenário internacional de arte urbana. Mas, para quem sempre foi tratado na marginalidade das políticas públicas, é só mais um duro golpe que precisa ser superado.
O grupo formado por três rappers e um grafiteiro (Aka Junin, Bzack, 7Niggaz e Ricks) foi convidado a participar do 6° Festival Internacional de Graffiti Ruaz Crew, que acontecerá esta semana, de 23 a 25 de agosto, em Teresina (PI), no entanto teve que cancelar a participação como convidado nacional para abertura do evento porque as passagens aéreas foram negadas pela Secretaria Estadual de Cultura e Turismo (Secult).
O prejuízo pela ausência de artistas roraimenses no evento é inominável, pois o Ruaz Crew é um dos mais importantes do gênero no Brasil, reunindo artistas de diversas regiões do país e do exterior, promovendo um intercâmbio cultural através do graffiti. Os convidados são escolhidos pela qualidade e impacto de suas obras. E o Estado de Roraima teve o privilégio de indicar seus mais dignos representantes, sonho este que ruiu devido ao desprezo governamental.
A justificativa oficial da Secult para negar as passagens foi dada por meio de ofício com antigos jargões, como “limitações orçamentárias”, “critérios estabelecidos para alocação de recursos” e “falta de tempo hábil”. O documento recheado de lamentação em tom oficial soa até como afronta para um movimento que representa uma ferramenta de expressão e representatividade de sociedades marginalizadas, e que por isso merece um tratamento digno por parte das autoridades.
Mas, se for espremer melhor esse suco de desprezo governamental por um grupo de Hip Hop, é possível extrair dele algo mais. Políticos não gostam de senso crítico e contestações. E o movimento Hip Hop roraimense tem saído de seus guetos e reunido mais vozes e gritos de contestação dos marginalizados do outro lado da periferia, não apenas por meio de suas músicas e grafittes, mas também por protestos públicos.
O movimento Hip Hop tem levantado a voz contra a desorganização da mesma Secult em concluir os trâmites do edital da Lei Paulo Gustavo (LPG), prejudicando não apenas os segmentos artísticos e culturais, mas também todos os tipos de produções de atividades independentes que impactam na vida cultural da sociedade. Os seguidos adiamentos de cronogramas prejudicam quem depende de financiamento para suas produções, a exemplo do Hip Hop que precisa de recursos para custear suas obras e eventos.
O Rap e o Grafitti, como artes que representam os pilares principais do Hip Hop, já provaram ser importantes instrumentos fomentadores da criticidade, servindo de inspiração para que jovens tenham não apenas voz na sociedade, mas também consigam alcançar mudança de vida dentro de uma periferia acossada pelas drogas, violência e falta de expectativa de vida devido à ausência de políticas públicas.
Por isso as letras das músicas de Rap frequentemente abordam questões como racismo, desigualdade social e violência. É dentro desse contexto que o movimento Hip Hop precisa sair dessa invisibilidade para dar voz a quem sempre viveu silenciado e na invisibilidade. E Roraima perdeu essa grande oportunidade em um evento importante que será realizado no Piauí. E é por isso também que o movimento Hip Hop não pode ter seus direitos renegados dentro da Lei Paulo Gustavo.
*Colunista