Jessé Souza*
Vai além do escárnio o projeto de lei de autoria do deputado estadual Isamar Júnior (PSC) que visa “valorizar homens e meninos na rede estadual de ensino”. A justificativa?! Ele argumenta supostos “números alarmantes da violência contra os homens”. É uma proposta que escancara de vez o fundamentalismo religioso que impregnou a política partidária.
Trata-se de um projeto que soca o estômago da realidade das mulheres vítimas de todo tipo de violência em uma sociedade escancaradamente machista. Os números falam. Quando ainda existiam dados estatísticos, em 2020, a Polícia Militar de Roraima registrou 11,92 mulheres vítimas de violência doméstica por dia.
E não são apenas violência física. Os dados do Anuário de Segurança Pública de 2022 apontaram que Roraima foi o Estado que mais registrou casos de violência psicológica contra mulheres do Brasil em 2021, com 3.013 ocorrências, número que representa 213,8% maior que o segundo no ranking, Rio Grande do Sul, que registrou 960 casos.
Os números não param por aí. Os dados do mesmo Anuário de Segurança Pública de 2022 colocaram Roraima como o segundo Estado com a maior taxa de estupro e estupro de vulnerável por 100 mil habitantes do país, totalizando 83,3. A taxa só ficou atrás de Mato Grosso do Sul, com 86,5.
Então, o projeto de lei do parlamentar acaba servindo como um deboche a realidade que as mulheres enfrentam no dia a dia, enquanto as autoridades deveriam estar implementando políticas públicas para enfrentar essa dura e triste realidade de violência contra o sexo feminino.
O que os deputados podem fazer de imediato é engavetar solenemente esse projeto de lei, como forma de se desculpar das mulheres vítimas que engrossam as estatísticas de todos os tipos de violência submetidas nessa sociedade que cultua o machismo, inclusive amparado pelos religiosos, que usam a Bíblia para justificar a superioridade do homem sobre a mulher.
A Assembleia Legislativa de Roraima há quase 13 anos desenvolve um bonito trabalho por meio do Centro Humanitário de Apoio à Mulher (CHAME), da Procuradoria Especial da Mulher, o qual não pode ser afrontado por um projeto de lei que afronta a dignidade das mulheres vítimas de todo tipo de violência.
Melhor: o próprio deputado deveria retirar o projeto e pedir desculpas publicamente a todas as mulheres roraimenses. Motivos não faltam, a exemplo de mais esse levantamento feito pelo Instituto Patrícia Galvão que revelou que, no ano passado, 76% das mulheres já foram vítimas de violência no ambiente de trabalho, seja ela física, sexual ou psicológica.
*Colunista