O governador Antonio Denarium chegará em um momento delicado para um evento festivo na Serra do Tepequém, nesta sexta-feira, quando irá anunciar obras de construção do complexo turístico. O momento não é para festa, pois incêndios criminosos avançam sobre a vegetação na serra e a forte seca obrigou a Prefeitura do Amajari a decretar estado de emergência por 180 dias.
A questão das queimadas que estão ocorrendo em Tepequém foi alertada ainda no início do verão, no ano passado, mas nenhuma providência foi tomada por parte das autoridades ambientais. O que ocorreu, mais uma vez, foi a promessa de formação de uma brigada de combate a incêndio na localidade, cujo treinamento iniciaria ainda em dezembro passado. Mas nada ocorreu e a comunidade tem sido obrigada a agir sozinha no combate ao fogo, mesmo não tendo equipamentos adequados.
Dois carros do Corpo de Bombeiros até apareceram na quarta-feira, mas o pessoal limitou-se a olhar para dizer que nada poderia fazer porque o fogo se alastrava por uma área de difícil acesso. Uma chuva que caiu nesta madrugada ajudou a debelar o incêndio, mas existem focos por todos os lados, que podem ativar novamente o fogo em grandes proporções, caso não caia uma chuva mais forte. Só uma ajuda dos céus, porque as autoridades já lavaram as mãos.
O evento festivo do governo não pode mascarar outros sérios problemas que precisam ser solucionados de forma urgente, a exemplo da regularização fundiária das terras de Tepequém, uma vez que a União já fez o repasse das glebas para o Estado depois de anos de judicialização. Nada mais impede a titulação das propriedades, porém o governo sequer dar satisfação sobre o assunto.
Enquanto o Estado, por meio de seu órgão fundiário, não toma qualquer iniciativa, o desordenamento urbano é visível e uma verdadeira corrida de especulação imobiliária foi iniciada, com políticos, magistrados, fazendeiros do agronegócio e outras autoridades comprando terrenos. E as cercas já começaram a ser erguidas nas trilhas dos roteiros turísticos da região.
Da mesma maneira, outros entraves desafiam o turismo, como a falta de esgoto sanitário (que representa uma grave questão ambiental), problema de abastecimento de água potável e falta de empresa de telefonia que forneça internet, graças à falta de gestão por parte do governo e de outras autoridades, que deveriam intervir para que moradores e milhares turistas que passam pela serra não enfrentem mais transtornos, especialmente o comércio que fica prejudicado.
Não pode ser esquecida a questão do asfaltamento da RR-203, cuja obra começou em 2020 e nunca terminou. Inclusive, o serviço segue paralisado desde o fim do ano passado, quando uma operação tapa-buraco começou no trecho entre a Comunidade Três Corações e Vila Brasil. O asfaltamento de péssima qualidade já está estourando na subida da serra. Na Vila Tepequém, na rua principal, o asfalto esfarelou-se assim que a pavimentação foi concluída, obrigando o serviço a ser refeito.
Por se tratar de uma rodovia estadual, é obrigação do governo também cuidar das pontes, as quais em sua maioria são de madeira que precisam de uma manutenção urgente. O correto seria construir pontes de concreto, garantido mais segurança não só aos turistas, mas também aos produtores que usam aquela rodovia. No entanto, não se vê sequer parlamentares que têm propriedades na região destinando recursos de emendas para que as pontes de madeira sejam substituídas por de concreto.
São essas questões urgentes que o governador irá encontrar em seu evento festivo que está programado para essa sexta-feira na escola da Vila Tepequém. Aliás, a escola é municipal, mas abriga um anexo da escola estadual no período vespertino, mesmo não tendo estrutura adequada. O fato é que o complexo turístico irá proporcionar uma nova realidade no turismo, no entanto pode se tornar em outro enorme problema se as questões pontuadas nesse artigo não forem solucionadas.
*Colunista