AFONSO RODRIGUES

Um garoto travesso

“Saudade é um sentimento que quando não cabe no coração, escorrega pelos olhos”. (Bob Marley)

Não sou um cara saudosista, mas ultimamente tenho andado lentamente pela saudade. E sempre pelas lembranças de passados que alimentaram minha alma. São coisas simples, mas muito importantes. Momentos que não saem de minhas lembranças. Era início da década dos cinquentas, do século passado. Eu praticava judô, e frequentava as atividades artísticas, no “Clube de Regatas Nitro Química”, em São Miguel Paulista, em São Paulo. O clube mantinha um programa de auditório, sempre aos domingos, com cantores profissionais e não profissionais. Meus fins de semanas eram todos no clube. Naquele sábado, uma vizinha chegou, lá em casa, e falou pra mim:

– Afonso… será que você pode levar meu filho, para ele cantar no programa do clube? Ele canta tão bem, e gostaria muito de cantar no programa.

Concordei em levar o garoto. À tarde fui até ao clube e inscrevi o garoto para o programa do domingo. Ele foi um sucesso iniciante e tornou-se um dos maiores cantores e compositores do Brasil.

A vida continuou, o tempo passou, e ele acabou mergulhando no pantanal da fantasia emocional. Mas, antes de mergulhar na música profissional, ele trabalhou com um dos meus irmãos, em um dos Bancos, em São Miguel. Não era um profissional modelo, porque não era sua praia. Iniciou sua carreira profissional na música e desapareceu do meio social onde ele iniciou sua carreira, como cantor em um “Programa de Auditório”. Afastou-se da família, de maneira desagradável. Casou-se com uma das maiores cantoras do Brasil. Anos depois ela começou a “cuidar” da família dele, em São Miguel. Em todos os finais de semana ela ia ao mercado que ficava em frente a nossa casa, fazia compras e levava para a mãe do cantor. Era aí que nos encontrávamos, eu e ela, e ela me contava o sufoco que estava passando com o mau comportamento do cantor. Tempos depois mudei-me de São Miguel e não procurei mais contato com a esposa do cantor. Perdi, aí, uma grande amiga.

Ele continuou como um grande nome da música brasileira, mas cada vez mais caindo no pantanal das drogas e vícios desastrosos. Eu já estava em Boa Vista, e trabalhava com meu grande amigo Quintella, no seu jornal, Gazeta de Roraima, quando, naquele dia recebemos a notícia do falecimento do cantor. Quintella ficou triste e disse que iria publicar uma matéria sobre o cantor. Por conhecer o personagem, sugeri ao Quintella que ele permitisse que eu falasse sobre o assunto. Na manhã seguinte a Gazeta publicou minha matéria sobre um dos maiores cantões da época. Pense nisso.

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