Um novo capítuloA greve dos professores estaduais, que foi reforçada com a adesão dos professores indígenas, serviu para demonstrar o que venho repetindo aqui há um certo tempo: não se pode mais pensar em desenvolver o Estado de Roraima sem incluir as populações indígenas. Depois de anos de preconceito e ataques a estas comunidades tradicionais, é preciso se despir do que foi pregado há anos por políticos que usaram a questão indígena para esconder suas incompetências e corrupções.
Os índios deram um passo importante com esta greve, o de não ceder à pressão do governo com seus atos, querendo achar que estava lidando com indígenas que facilmente poderiam ser repelidos ao primeiro grito, como os fazendeiros faziam com os seus pões no curral, ou como fazia com os professores seletivados, que metiam o rabinho entre as pernas na primeira olhada com a cara feia.
Até ameaças foram usadas, com gravações que incitavam as pessoas a agirem na violência para “expulsar” (veja só!) os professores indígenas em greve e seus apoiadores acampados na Praça do Centro Cívico. Era a mesma tática que os tomadores de terras usaram no passado, quando queriam impor suas leis e regras, até a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) garantindo a homologação da Terra Indígena Raposa Serra do Sol.
As pressões psicológicas e midiáticas também são experimentadas contra os professores indígenas, acusados de estarem sendo manipulados pela oposição ou “comprados” com garrafa de cachaça ou prato de comida. Além do arraigado preconceito já conhecido, a sociedade (ou os que mandam nela) desconhece completamente a organização dos povos indígenas, em especial a dos professores.
Sitiado na Praça do Centro Cívico, o governo sequer consegue negociar, pois não quer reconhecer a força que o movimento indígena tem, conquistada a duras penas desde a disputa pelas terras. Subestimou e enveredou pelo viés errado, o de achar que poderia bater o pé para amedrontar e enxotar.
Os políticos estão aprendendo mais um capítulo desta lição e, a partir de agora, terão que ter não apenas respeito pelos índios e suas organizações, mas inteligência para reconhecer que não se pode pensar em desenvolver Roraima sem ouvi-los, sem incluí-los, sem respeitá-los e sem conhecê-los.
Agir com o ranço de antigos coronéis não funciona mais. Dialogar e respeitar a sociedade significa incluir os índios nessa nova realidade, com ou sem greve, na tranquilidade ou nos conflitos. É preciso escrever um novo capítulo na História de Roraima.
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