Uma personagem da política roraimense foi para uma de suas redes sociais consultar os internautas sobre o que eles desejam que mude na região onde moram. Dentre as quase 115 postagens, houve uma maioria apontando problemas principalmente na Educação e Saúde, dois setores importantes. Houve ainda citações a respeito das condições ruins das estradas no interior do Estado.
A questão da Saúde se arrasta há muito tempo, e os problemas só pioraram durante a pandemia da Covid-19, quando as deficiências ficaram mais evidentes, quando estouraram casos de corrupção com os recursos federais destinados para aplicar na prevenção e combate ao coronavírus, inclusive surgiu o caso do dinheiro na cueca que se tornou um escândalo em nível nacional.
Apesar de a situação ter melhorado na Capital, existem muitas insatisfações a respeito da fila de espera das cirurgias eletivas, maternidade funcionando de maneira improvisada em um local feito de tendas e da fila de exames especializados na Clínica do Hospital Coronel Mota. E também há muitas reclamações sobre os precários atendimentos nos municípios do interior de Roraima, onde faltam profissionais e medicamentos básicos nas unidades.
Na Educação, a situação só piorou desde a pandemia, piorando o que já vinha ruim desde governos anteriores. Para se ter uma ideia, a maior parte das escolas indígenas foi construída há 30 anos, mas até hoje não foram reformadas ou ampliadas. Até o fim do ano letivo de 2022 ainda havia escola que não conseguiu retomar as aulas presenciais devido às precárias condições dos prédios das unidades de ensino ou falta de transporte escolar em alguns casos.
Culpas foram jogadas na pandemia, sob alegação de que houve dificuldade em contratar empresas para fazer reformas e ampliações de escolas. No entanto, até hoje, neste exato momento, durante os últimos quatro anos, nenhum prédio de uma nova escola foi erguido. Ao contrário, algumas escolas foram extintas e os prédios passaram a ser utilizados para outros fins.
No bairro Caimbé, a situação ficou tão crítica que o prédio foi interditado porque corria o risco de desabar sobre a cabeça de alunos e professores, obrigando o corpo docente a adotar a “pedagogia do WhatsApp”, em que não só os conteúdos eram repassados por mensagens como também as aprovas eram aplicadas pelo aplicativo.
Situação crítica é enfrentada por estudantes das comunidades indígenas. Inclusive, neste mesmo período no ano passado, esta Coluna comentou a respeito da mãe de uma aluna adolescente indígena que foi para as redes sociais protestar exatamente no dia em que foi divulgado o valor gasto pelo Governo do Estado com os quatro shows nacionais (R$ 1.750.000,00) na edição da Exposição Feira Agropecuária de Roraima (Expoferr) de 2022, enquanto sua filha perdia mais um ano letivo por falta de transporte escolar.
A revolta daquela mãe não era apenas por causa do valor gasto pelo governo com artistas nacionais (este ano, o valor quase que duplicou com os shows dos cantores), enquanto faltava recurso para ajeitar as estradas e contratar empresas de transporte escolar.
Atualmente, enquanto os recursos para a Expoferr foram inflados, as escolas públicas continuam caindo aos pedaços e as filas na saúde pública não conseguem ser reduzidas. É apenas um retrato de como os políticos tratam os setores importantes para a sociedade. Enquanto isso, o Estado entra em contenção de despesa, mas paga R$1 milhão para um show de algumas horas – o mesmo show que é cobrado de R$600 milhões a R$800 milhões em outros estados.
*Colunista