Um pouco de História para lembrar que não podemos negligenciar o meio ambiente
Jessé Souza*
É preciso recorrer à História para que, em um futuro bem próximo, o Estado de Roraima não possa passar por grandes crises devido a calamidades por termos negligenciado o meio ambiente. A criação do Município de Pacaraima, a partir da abertura do trecho norte da BR-174 e a instalação do Pelotão de Fronteira do Exército no Marco BV-8, na divisa com a Venezuela, é um bom exemplo para se colocar em reflexão neste momento.
A abertura da estrada para a urgente necessidade de se instalar o Marco BV-8 partiu da calamidade enfrentada por uma grande seca no Rio Branco no início da década de 1970, quando Roraima era Território Federal. Foi assim que, em 1972, o 6º Batalhão de Engenharia e Construção (BEC) conseguiu alcançar o topo da Serra de Pacaraima, que passou a ser chamado de Divisor ou Marco BV-8, que foi o termo mais popular, a partir do qual foi surgindo Pacaraima.
A História mostra que o Estado está sujeito a secas rigorosas, as quais impunham uma situação de calamidade, uma vez que a população era toda abastecida por transporte fluvial pelo Rio Branco. Se não cuidarmos de nossos principais mananciais, hoje severamente agredidos pelo garimpo ilegal, principalmente no Rio Uraricoera, um dos principais afluentes do Rio Branco, poderemos enfrentar severas crises hídricas.
Não podemos esquecer que, em 2014, os paulistanos enfrentaram a pior crise hídrica de todos os tempos, que castigou a população que teve de mudar hábitos para aprender a economizar água. Inclusive, o país acompanhou todo o sofrimento diariamente com as medições de nível do principal sistema de abastecimento paulista, o Cantareira, com todos implorando pela chegada das chuvas.
Se não houver atenção com esses fatos históricos, podemos pagar um preço muito caro em um futuro muito próximo. Hoje já não dependemos do Rio Branco para abastecer o Estado com alimentos e combustíveis, mas existem várias atividades econômicas que dependem do rio, bem como toda rede de abastecimento de água potável dos principais municípios roraimenses.
A construção do Pelotão de Fronteira no Marco BV-8 foi um exemplo de tempos de calamidade, quando o 6º BEC foi decisivo para abrir a estrada e permitir estrutura na fronteira para que pudessem ser exportados alimentos e combustíveis a partir de Santa Elena de Uairén. Sim, já houve o tempo que dependemos da Venezuela, inclusive no que diz respeito ao abastecimento de energia, que era feita pelo Linhão de Guri.
Agora os tempos são outros, mas os riscos de tragédias pela negligência com o meio ambiente continuam, ou até mesmo pioraram devido às agressões pelas atividades humanas. Na década de 1970, não existiam grandes atividades que agredissem severamente o meio ambiente, como o garimpo ilegal de hoje que usa potentes maquinários, os quais são capazes de devastar o leito de um rio em poucos dias.
Então, não se pode falar em legalizar garimpo da forma altamente degradadora praticada atualmente. A História está aí para a alertar os que não se importam com as consequências por atividades ilícitas e degradadoras do meio ambiente. Como já sabemos, a natureza pode até demorar a cobrar o preço. Mas um dia a conta chega em forma de calamidades.
*Colunista