JESSÉ SOUZA

Um pouco do suco da política roraimense na barulhenta disputa em Alto Alegre

Desde 2021 que a população de Alto Alegre vem passando por revés na política partidária, realidade que segue até hoje (Foto: Divulgação)

A situação do Município de Alto Alegre é o suco da política roraimense, cujo sabor foi engrossado com a eleição suplementar para a Prefeitura diante da cassação do prefeito, Pedro Henrique Machado (PSD), que chegou inclusive a ser preso posteriormente. Ali estão reunidos todos os ingredientes do que reina em Roraima quando se trata de política partidária.

Para contextualizar, Alto Alegre se tornou a porta de entrada para o garimpo ilegal na Terra Indígena Yanomami, cuja atividade criminosa aglutina outros crimes, a exemplo do tráfico de drogas. Logo, aquela cidade tornou-se uma rota de todo tipo de ilegalidade, com a violência sendo um dos reflexos que pode ser sentido pelas ocorrências policiais. A situação é tão surreal que passado e presente se conectam na política e na polícia.

Senão, vejamos. O prefeito cassado, preso sob acusação de um esquema de propinagem, é filho de um casal envolvido há duas décadas na Operação Praga do Egito, que ficou conhecido como Operação Gafanhoto (funcionários fantasmas eram colocados apenas para “comer” na folha de pagamento, ou seja, recebiam sem trabalhar e davam parte do dinheiro para políticos e outras autoridades).

O pai dele, Henrique Machado, então conselheiro do Tribunal de Contas do Estado (TCE), foi condenado por peculato neste caso histórico da gafanhotagem. Enquanto respondia a esta acusação, ele foi condenado, outra vez, à prisão, por ter recebido de forma irregular o auxílio-transporte justamente enquanto estava afastado do cargo de conselheiro.

Voltando à atualidade, foi em agosto do ano passado que Pedro Henrique se tornou alvo de uma operação da Polícia Federal que investigava esquema de fraudes a licitações, pagamentos de propinas e lavagem de dinheiro. Preso após se entregar em Boa Vista, ele foi solto em setembro por decisão do Supremo Tribunal Federal (STF).

Antes disso, em abril de 2021, Pedro Henrique teve o mandato cassado pelo Tribunal Regional Eleitoral (TRE) sob acusação de distribuir cestas básicas em troca de votos na campanha eleitoral de 2020. Recorrendo no cargo, em fevereiro deste ano saiu a decisão final do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), mantendo a cassação dele e da então vice-prefeita, Simone Elisabete Friedrich, por compra de votos. Com a decisão, o TRE determinou novas eleições para o fim do mês, dia 28 de abril.

Já fora do cargo e em plena campanha eleitoral, na semana passada Pedro Henrique foi alvo novamente de outra operação policial, desta vez sob a suspeita de um esquema de lavagem de dinheiro por meio de um aumento significativo no faturamento de combustível, que chegou a R$ 2 milhões somente nos dois primeiros meses deste ano.

Alvo da operação Plysimo, contra ele e outros envolvidos foram cumpridos 14 mandados de busca e apreensão não só Alto Alegre, mas também  nos municípios de Mucajaí e Boa Vista, como também no Estado de São Paulo. Há todos os indícios de um esquema de lavagem de dinheiro ligado ao garimpo ilegal em terra indígena. Mais uma vez, política, corrupção e garimpo se conectando.

Com a proximidade do dia da votação da eleição suplementar, os políticos estão com toda atenção voltada para lá, onde há uma barulhenta disputa pelos 11 mil votos daquele município, cujos eleitores são induzidos a acreditar que tudo isso não passa de perseguições políticas e disputa pelo poder. Quando a verdade é que lá estão resumidos passado e presente de uma política de vale-tudo, em que casos de corrupção não escandalizam mais ninguém.

Assim como não escandaliza mais políticos desse mesmo passado e presente se misturando que andam de tornozeleira por aí justamente pelas condenações dos malfeitos na política local…

*Colunista

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