JESSÉ SOUZA

Um preocupante cenário começa a ser observado após suspensão de ajuda humanitária

No ano passado, 94.726 refugiados venezuelanos chegaram ao país, a maioria em Roraima (Foto: ALAN CHAVES/AFPTV/AFP via Gett)

Quem costuma andar por Boa Vista tem observado os reflexos imediatos da suspensão dos serviços de ajuda humanitária aos venezuelanos pelas Organizações Não Governamentais (ONGs) depois do corte de financiamento dos Estados Unidos da América (EUA) assim que o presidente Donald Trump voltou ao cargo, em janeiro passado.

Um desses reflexos pode ser visto por todos nos semáforos mais movimentados da Capital, onde voltaram os limpadores de para-brisas de carro, pedintes com crianças de colo e vendedores informais de todos os tipos. Nos restaurantes mais populares no Centro também tem aumentado o número de pedintes e vendedores acompanhados de crianças.

Outra cena que começou a ser visto nos bairros São Vicente e adjacência, ou até mesmo na área central de Boa Vista, é o aumento do número de famílias dormindo nas calçadas, meio-fio e prédios abandonados. Nos órgãos públicos na Praça do Centro Cívico começou a aparecer imigrantes pedindo para usar o banheiro, algo que vem sendo negado em alguns locais.

Trata-se de situações que podem ser observadas por qualquer pessoa que transita pela cidade ou frequenta restaurantes, feiras e órgãos públicos. Mas outras não podem ser vistas abertamente, a não ser quando a situação começar a sair do controle, caso os governos não estejam atentos ao que está se desenrolando.

Umas delas é a questão da violência urbana, pois como não estão mais sendo distribuídas refeições, é bem provável que migrantes desempregados ou em situação de rua possam ser empurrados para a prática de pequenos furtos ou até mesmo assaltos. Obviamente que pobreza não autoriza ninguém a ser bandido, mas a fome empurra as pessoas a situações limites.

Pessoas desempregadas, principalmente jovens, ficam mais suscetíveis a serem cooptadas para o crime organizado, especialmente por facções venezuelanas, uma vez que se tratam de imigrantes que passaram a ficar sem qualquer ajuda para se alimentar, fazer suas necessidades fisiológicas em locais adequados e sem condições de tomar um banho.

A prostituição também é outro problema que costuma aumentar, especialmente entre jovens mulheres, quando se chega a uma situação limite, como é o caso dos imigrantes refugiados e sem qualquer assistência. Inclusive, a exploração sexual infantil, uma vez que é possível observar a volta de crianças aos semáforos.

Então, se as autoridades não estiveram atentas a este preocupante cenário, se antecipando nas ações, em pouco espaço de tempo teremos a repetição de um cenário que chegamos a conhecer quando a crime migratória venezuelana estourou. O momento requer que a sociedade cobre que as instituições funcionem para evitar o caos.

O alerta está dado, principalmente porque os números são preocupantes. Conforme estatística do governo brasileiro, 94.726 refugiados venezuelanos chegaram ao país em 2024, a maioria atravessando a fronteira em Roraima.

*Colunista

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