JESSÉ SOUZA

Uma eleição singular na Capital e as disputas marcadas por antigas práticas

Prisões de vereadores e apreensões de alto volume de dinheiro puderam mostrar a realidade das eleições municipais (Foto: Divulgação)

Não se pode analisar o resultado das eleições municipais de 2024 sem deixar de elencar a vitória esmagadora do prefeito Arthur Henrique, reeleito com 75,18% dos votos dos eleitores boa-vistenses. Era um resultado previsível diante de uma disputa singular, em que a briga interna dos adversários principais apenas ampliou a vantagem.

A decisão sobre o futuro de Boa Vista não dependeu mais apenas de puro marketing, polarização ou alguma reação surpresa de adversários. Ficou nas mãos dos eleitores a ampla avenida de ter a segurança de seguir com a Capital em um porto seguro, sem aventuras políticas, somando-se à imagem de um prefeito que transitou habilmente pela linguagem atual das redes sociais para mostrar o seu trabalho que deu sequência em uma Capital já estruturada, somando ao seu carisma.

Com a eleição a prefeito encaminhada, a grande disputa ficou para os candidatos a vereador, que tiveram que ir para um campo de batalha minado em que a disputa não foi balizada tão somente pela administração municipal bem avaliada, mas do cada um por si naquela realidade que o eleitor bem sabe de outros pleitos. O que ocorreu no Residencial Vila Jardim, onde há uma grande concentração de eleitores, pôde resumir o que foi essa disputa (mas esse é um assunto para depois).

Os meandros eleitorais na disputa pelas vagas na Câmara Municipal de Boa Vista foram marcados pelas prisões de candidatos, inclusive de vereadores com mandato, e as apreensões de farto volume dinheiro. Nada de novo dentro desse contexto de escancarado abuso de poder econômico que, algumas vezes, esbarrou em denúncias feitas pelo moderno canal de aplicativo de mensagens.

A renovação de 52% do legislativo municipal boa-vistense precisa ser analisada sob algumas óticas. A principal delas, que vale para os demais municípios do interior, é que os chamados “padrinhos políticos” foram determinantes para a eleição dos novatos e a reeleição dos que tinham mandatos – já visando as próximas eleições. Incluindo aí a força dos evangélicos, que elegeram dois representantes na Capital e outros no interior.

As renovações experimentadas na Capital e no interior, de alguma forma, podem ser comparadas a trocar seis por meia dúzia – obviamente com suas poucas exceções. E isso não é uma realidade exclusiva das eleições deste ano, mas do que vem sendo observado há muito tempo, com poucas reações dos órgãos fiscalizadores e da própria Justiça Eleitoral, que demora a analisar denúncias de crimes eleitorais a cada pleito.

O Município de Pacaraima pode ser citado como exemplo, em que prefeito e vice só perderão o mandato, mesmo cassados, porque serão trocados pelos novos eleitos. No Município de Alto Alegre, a eleição suplementar apenas repetiu as práticas antigas, cujo mandato tampão sub judice encerrará com os novos eleitos também.

E assim se faz eleição no Brasil. É um grande faz de conta, em que o eleitor finge que não vende voto e o político finge que não compra. É por isso que a reeleição do prefeito de Boa Vista foi tão representativa a ponto de servir de reflexão para as futuras eleições e sobre o que queremos nesta política em que políticos cassados sobrevivem como se nada tivesse ocorrido.

*Colunista

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