Uma reunião bonitinha com parlamentares, mas sem nenhum resultado até hoje
Jessé Souza*
Hoje, sexta-feira, completam-se dois meses que esta Coluna publicou o artigo “Comunidades do Amajari fazem reivindicações a deputados, especialmente sobre Tepequém”, que tratou a respeito de uma reunião em que seis deputados estaduais participaram na Serra do Tepequém, onde estava também moradores das comunidades Bom Jesus, Trairão, Ametista e sede do Amajari, a Vila Brasil.
Naquele evento, vários assuntos foram tratados e um deles foi o fato de a empreiteira contratada pelo Governo do Estado para recuperar a RR-203, que atravessa todo o Município de Amajari e dá acesso à Vila Tepequém, ter abandonado a obra sem concluir a metade do contrato. O tempo passou e tudo continua do mesmo jeito, mostrando que absolutamente nada foi cumprido a respeito das reivindicações e pautas tratadas entre os parlamentares e os morados do Amajari.
A situação da rodovia do principal ponto turístico de Roraima foi apenas um dos pontos da pauta, mas houve reivindicações dos moradores de outras regiões, que cobraram a respeito das precárias condições das estradas e pontes de madeiras. Se naquela época as vicinais que servem para a escoar a produção de pequenos agricultores já estavam em situação crítica, é de se imaginar como estão hoje, quando o inverno começou e as chuvas rigorosas atingem especialmente toda a região Norte do Estado.
Não custa lembrar que o Município do Amajari foi um dos beneficiados pelo Governo do Estado no ano eleitoral, que abriu os cofres para os prefeitos do interior, E a prefeita do Amajari, Núbia Lima, declarou apoio ao governador Antonio Denarium, naquele período de campanha eleitoral, o que significa que o município teve recurso e apoio político para impedir que a situação das estradas e pontes chegassem ao nível atual.
O discurso dos seis deputados presentes àquela reunião foi bonito, conforme reza a cartilha da política, com promessas das mais enfáticas. Estavam presentes os deputados Marcinho Belota, Neto Loureiro, Armando Neto, Rarison Barbosa, Renato Silva e Jorge Everton, aquele que achou que poderia ser o novo protagonista da política roraimense ao lançar seu nome para disputar a vaga no Tribunal de Contas do Estado (TCE). E foi ele que fez o discurso mais duro, se colocando com o “xerife” que havia moralizado a Assembleia Legislativa, no caso da cassação do deputado Jalser Renier.
O nome dele está sendo destacado porque, naquela reunião, após seu discurso efusivo, foi interpelado por um morador, que disse que o deputado deveria usar esse mesmo afinco, que ele disse ter empenhado no caso Jalser, para solucionar os problemas de Tepequém. O tempo passou e tudo continua do mesmo jeito, não só em Tepequém como nas demais regiões circunvizinhas historicamente abandonadas por todos os níveis de governo.
Só para relembrar, os deputados se comprometerem, em relação à Vila Tepequém, em apoiar as demandas, as quais incluem, além de estradas e pontes, Segurança Pública, questão fundiária e meio ambiente. Na Segurança, o ponto tratado foi a falta de uma Delegacia de Polícia Civil e o baixo efetivo das guarnições da Polícia Militar. O Município do Amajari é um dos quatro municípios que não dispõem de uma delegacia.
Na questão fundiária, além da falta de documentação das propriedades, a ocupação desordenada avança de forma acelerada, uma vez que o Estado se mostrou ausente até aqui, depois que a União repassou a gleba para o seu domínio. O meio ambiente foi outra pauta, uma vez que os moradores estão proibidos de retirar areia, barro e pedra para as suas construções, mesmo que esses materiais sejam retirados de rejeitos do antigo garimpo de diamante.
A proibição ocorreu depois que a fiscalização do Ibama esteve na Vila Tepequém, este ano, autuando proprietários de veículos que fornecem materiais de construção a moradores e empreendedores do Turismo, que por consequência provocou a paralisação de todas as obras de construção necessárias para os empreendimentos turísticos. Como não há definição e regras, a reivindicação é que haja um imediato estudo para definir um local onde possam ser extraídos areia, barro e pedra sem causar impactos sérios ao meio ambiente, sob pena de inviabilizar as atividades turísticas.
No discurso, ficou tudo bonitinho, pois alguns dos deputados presentes integram comissões que podem agir imediatamente, como a de Obras, de Terras, de Segurança e do Meio Ambiente. Mas, na prática, apenas um discurso perdido no tempo e no espaço, como sempre vem ocorrendo na política, com muita propaganda enganosa, como foi o caso do governo em relação à recuperação das estradas. Mas ainda há tempo de se redimir. E a internet está aí para refrescar a memória de políticos com amnésia seletiva.
*Colunista
** Os textos publicados nesta coluna não refletem, necessariamente, a opinião da FolhaBV