Uma reviravolta que chama todos a uma reflexão sobre a política
Jessé Souza*
Não há como deixar de comentar a reviravolta que ocorreu na Assembleia Legislativa de Roraima, ontem à noite, com a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) que devolveu o cargo de presidente daquele poder ao deputado Jalser Renier (SD) e suspendeu todos os atos disciplinares que fatalmente deveriam terminar com a cassação do parlamentar, na sessão de hoje.
Com o protagonismo do STF na política desde 2014 para cá, essa decisão apenas mostra o que ocorre quando se misturam interesses jurídicos com interesses políticos (alguns deles inconfessáveis), o que acaba referendando o papel que o Supremo vem desempenhando como protagonista quando os atores políticos contaminam os fatos com seus interesses partidários.
Não havia apenas um “loucura” por parte do deputado que tentava escapar da degola e do enterro político a que estava sendo submetido. Também havia um evidente “desepero” para cassar o parlamentar a qualquer custo por parte do grupo que estava no comando da Assembleia Legislativa, até ontem, alinhado com os interesses do Palácio Senador Hélio Campos.
Difícil imaginar como isso vai acabar, uma vez que a disputa agora saiu do embate político paroquiano e está nas mãos da mais alta Corte da Justiça brasileiras, que há um certo tempo tornou-se personagem importante dentro da grave crise política atravessada pelo país, seja por falta de jurisprudências duradouras ou da constante mudança de posição de ministros.
Enquanto segue a pendenga judicial e a queda de braço ruidosa na disputa pelo comando do Legislativo estadual, resta aos eleitores apelarem para a reflexão sobre o que foi dito, durante estes últimos dias, no Plenário da Assembleia Legislativa, cujos termos mais brandos foram “propineiro” e “agiota”.
Conforme o artigo de ontem, há uma série de situações que chamam a sociedade roraimense à reflexão pela gravidade das denúncias ou insinuações. Há muito o que se passar a limpo, enquanto sobram farpas e graves acusações de todas as partes envolvidas nessa vergonhosa disputa.
E não se pode esquecer que, além de todo esse embróglio, a Assembleia Legislativa segue com deputados cassados, no total de três: Renan Beckel Filho (Republicanos), Yonne Pedroso (SD) e Eder Lourinho (PTC) – este último o mais recente, acusado de compra de votos. É um cenário digno de um grande enredo.
De imediato, o que se pode esperar é que, com a mudança no comando do Legislativo, este poder agora possa retomar o seu papel para o qual existe, que é fiscalizar o Executivo. Afinal, o Legislativo chegou ao cúmulo de publicar um institucional comadresco que “carimbava” as ações do Executivo, como se um poder agora fosse extensão do outro.
Como diriam os mais velhos, não há o mal que não traga o bem. E poderá haver cenas dos próximos capítulos, pois existem informações de que será montado um entrincheiramento dentro da Presidência daquela Casa, o que poderá provocar mais embates sobre os quais a opinião pública precisa ficar atenta, uma vez que desses atritos barulhentos costumam sair verdades ocultas aos olhos e ouvidos dos simples mortais eleitores.
*Colunista