Já falei pra você, e não me lembro mais da data. Mas, tudo bem, foi no início do movimento negro para a criação das cotas para os negros, nas universidades. Era um sábado pela manhã. Eu estava na janela do apartamento quando ouvi um movimento na Praça da Sé. Peguei o elevador, desci e fui até lá. A Praça estava tomada por pessoas negras, em frente à Catedral. Fiquei curioso e resolvi assistir ao movimento. Era um protesto contra as cotas. Fiquei curioso e me encantei com as falas de intelectuais negros que protestavam, alegando que as cotas não eram mais do que uma desvalorização da pessoa negra. Concordei e concordo plenamente. Não há nada, a meu ver, dentro da racionalidade, com cotas que só desvalorizam. O argumento mais irracional é que a criança pobre e negra só estuda em escolas de qualidade inferior. E com todo meu respeito, como é que ficam as crianças pobre e brancas que estudam nas mesmas escolas? Este argumento não foi discutido, mas falado, naquele movimento.
Ontem, assistindo à televisão, lembrei-me daquela manhã importantíssima por um movimento que, de certa forma, nos alerta para que sejamos e nos sintamos, mais importantes do que a cor da nossa pele. Nunca alcançaremos o patamar que alvejamos, enquanto ficarmos presos à ilusão de mostrar para os outros o que somos na nossa aparência. Quando sabemos que somos todos iguais nas diferenças, não nos preocupamos com as tolices dos que se julgam e pensam que são superiores por serem diferentes na cor da pele. Não vamos, os de cor negra, nos deixar levar pela ignorância dos que não sabem respeitar os iguais. As cotas não são mais do que uma falta de respeito, tanto para quem as dá, quanto para quem as aceita. Os sertanejos nordestinos não têm que andarem com chapéu de couro, para mostrar que são nordestinos.
Quando nos preocupamos com as idiotices dos outros estamos nos igualando a eles. Em vez de você ficar chateado ou chateada, por ser considerado inferior por ser negro ou negra, estará alimentando a ignorância e o despreparo do insultante. Faça sempre o melhor no que você faz, mas sem a preocupação de estar mostrando que você é o que os outros querem que você seja. Assuma a caminhada para o aprimoramento da educação, e você estará preparando o mau educado, para ele entender que a diferença entre sua pele e a dele é apenas uma questão de cor e não de qualidade. Mas, o mais importante é que você se sinta superior para se responsabilizar pelo desenvolvimento da humanidade, através da Educação. Pense nisso.
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